segunda-feira, março 17, 2014

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Sisyphus, Sisyphus

Sisyphus
“Sisyphus”
Asthmatic Kitty Records / Popstock
3 / 5 

Sufjan Stevens gosta de experimentar ideias, formas e sons. Do trabalho com quarteto de cordas em Run Rabbit Run à visão multimedia que abraçou em B.Q.E., a sua obra revela uma invulgarmente vasta abertura de horizontes, que tem até mesmo na complexidade formal e instrumental de álbuns como Illinoise ou The Age of Adz uma clara expressão. Sisyphus é um projeto a quatro “vozes” no qual ele tem a seu cargo um quarto do trabalho, mas é sobretudo um terreno que reforça esta mesma sua vontade (e capacidade) em trabalhar entre espaços distintos e desafiantes. Na base (musical) da ideia está um projeto de colaboração a três que já o tinha juntado a Son Lux e ao rapper Seregheti num EP que tinham então lançado sob a designação S/S/S... Havia um novo EP na linha do horizonte destes três músicos quando foram desafiados pelo Walker Art Center, em Minneapolis, para criar música para uma exposição de Jim Hodges (que inaugurou em fevereiro e está ali patente até maio). Inspirados pelas imagens (e temáticas) criadas por Hodges – que é assim a “quarta voz” criativa do projeto – os três músicos entregaram-se à criação de temas vocais que, excedendo em volume o espaço de um EP, acabaram por dar origem ao álbum que agora é lançado sob o título Sisyphus. Ao que parece – segundo palavras numa entrevista citada pela Pitchfork – os músicos optaram por não interferir com as contribuições uns dos outros. Apesar de uma maior proximidade entre as ideias de Sufjan Stevens e Son Lux, a gestão dos acontecimentos ficou aqui definida por uma lógica de respeito e admiração entre os três. E talvez daí decorra a disparidade entre as ideias que fazem o álbum parecer mais uma coleção de acontecimentos distintos que expressão de um corpo comum. Temas mais “ambientais”, com um trabalho cénico mais elaborado, como I Won't Be Afraid, Hardly Going On ou Take Me representam o que pode haver de valor acrescentado quando mais que uma “voz” junta ideias à criação. O mesmo se pode dizer do belíssimo Alcohol ou das vistas largas nos diálogos entre rap e fundos instrumentais em Calm It Down ou Flying Ace, que deixam claro que o que falha em Sisyphus não é a presença do hip hop. O que falta aqui é uma mais evidente integração de elementos, um mais profundo diálogo entre linguagens e “vozes”. O respeitinho é muito bonito, mas a música ganhava aqui se os três músicos “incomodassem” mais o vizinho do lado... E são vários os momentos de excelência num alinhamento que, se calhar, teria ganho se tivesse gerado um EP. Ou até mesmo dois...