quarta-feira, março 12, 2014

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Rufus Wainwright, Live From The Artist's Den

Rufus Wainwright 
“Live From The Artist's Den” 
Commercial Marketing / Universal
3 / 5 

De calças douradas, sapatos vermelhos e óculos escuros de dimensão XL, Rufus Wainwright veste a pele de heranças mais garridas dos anos 70 num palco diferente do habitual. Estamos numa igreja. A Ascension Church, em pleno Greenwich Village, um dos corações boémios de Nova Iorque. Consagrada em 1841, a igreja abre habitualmente as portas a diversas manifestações artísticas e um concerto com fôlego pop/rock pelo cantor canadiano é apenas um dos exemplos possíveis do que ali acontece. O espetáculo decorreu na noite de 17 de maio de 2012, gravado então como parte da série televisiva Live from the Artist’s Den. E agora, num tempo de compasso de espera entre um novo episódio na carreira do músico (que está a compôr uma segunda ópera, Hadrian, a estrear em 2018), ganha forma num registo ao vivo que surge nos formatos de CD e DVD que chega ao mesmo tempo que é lançado um best of seu. A música que se escuta em Live From The Artists Den chega, sobretudo, do alinhamento de Out of the Game, o seu mais recente álbum de estúdio no qual ecos dos setentas se cruzaram com as suas novas canções (em concreto chegam dali dez das 16 canções tocadas). Mark Ronson, que produziu esse álbum de 2012, surge como convidado em Bitter Tears, canção que encerra o alinhamento (e que representa mesmo o melhor instante do concerto, numa versão mais longa e entusiasmada que vinca a presença das eletrónicas). Com menos intervenções faladas do que o habitual em concertos seus, Rufus não deixa contudo de fora os pais. De Loudon Wainwright canta One Man Guy (que gravou em Poses) e da mãe Kate McGarrigle recorda On My Way to Town, canção que esta apresentara no álbum Love Over and Over (1982). Claramente nascido da proximidade de Out of The Game, o registo é assim mais uma peça-companheira desse disco que um olhar mais amplo sobre a sua obra. E talvez por isso pouco vá agitar mais que o entusiasmo dos admiradores mais fiéis do cantor. Vale a pena deixar claro que, mesmo assim, o conteúdo áudio é bem melhor que a pavorosa capa que o disco nos mostra.

PS. Este texto é uma versão alargada de um outro originalmente publicado na edição de 11 de março do DN