Vários Artistas
“The Organization of Pop – 30 Years of Zang Tuum Tumb”
ZTT Records
3 / 5
Entre as muitas editoras independentes que floresceram na Inglaterra dos oitentas, na sequência de uma verdadeira revolução na indústria motivada pelo fulgor e inquietude levados a cena pela geração punk, houve uma que se destacou não apenas pelo sucesso que chegou a alcançar, mas pelo facto de ter sabido desenvolver um conceito sólido tanto na construção de uma identidade sonora e visual como pelo facto de ter apostado desde cedo numa estratégia de comunicação que muito deveu a sua alma (e impacte) à visão do jornalista Paul Morley. Fundada em 1983 por Morley, o produtor Trevor Horn (um ex-Buggles) e a empresária Jill Sinclair, a ZTT Records (iniciais de Zang Tum Tumb, expressão “colhida” no manifesto futurista de Marinetti) ganhou desde cedo grande visibilidade pelo impacte (e sucesso tremendo) dos três primeiros singles dos Frankie Goes To Hollywood (FGTH) – Relax, Two Tribes e The Power of Love. Estes singles, juntamente com o álbum de estreia do grupo (Welcome To The Pleasuredome) evidenciaram um estilo de produção grandioso, sofisticado e perfecionista, que desde logo se afirmaria como uma das marcas de identidade da editora, ideia logo confirmada pelos primeiros álbuns dos The Art of Noise e Propaganda, que juntamente com o duplo de estreia dos FGTH define a “santíssima trindade” da etapa de apresentação da editora, que assim se afirmava como uma força do som da frente de uma noção de pop alternativa. Com um panorama de vida nos oitentas alargado a importantes presenças no catálogo de nomes como os do compositor Andrew Poppy, da cantora Anne Pigalle e dos Act (a segunda banda de Claudia Brüken, a voz da formação original dos alemães Propaganda), a ZTT conheceu segunda etapa de presença consequente no panorama da música popular quando, nos anos 90, teve entre os 808 State um dos nomes mais marcantes na construção do firmamento de uma música de dança com alma pop de então (juntando também outros claramente menores que, em hora de contar a história, fazem aqui sentido mesmo revelando uma menor focagem da estratégia editorial). Num tempo de revisão da matéria dada – e são vários os lançamentos que acabam de entrar em cena evocando o catálogo da editora – esta antologia serve como um retrato fiel da sua atividade. Pena o alinhamento tão desordenado, cruzando as visões pop dos oitentas e as incursões pela dance music dos noventas de uma forma que dilui a capacidade de criar uma visão conjunta e mais evidente de cada uma destas duas etapas.E estranha a ausência de Seal, uma das forças do catálogo nos anos 90. O alinhamento de 35 temas é contudo alargado para lá dos mais evidentes embaixadores do catálogo, recordando instantes menos vezes lembrados como os que aqui reencontramos com nomes como os de Kirsty MacColl, Shane McGowan, Lomax ou Lisa Stansfield, juntando aqui e ali edits de singles e ocasionais versões de máxis. E fecha com a gravação história de Filippo Tomaso lendo o manifesto futurista. Faz sentido sim senhor.