John Harle + Marc Almond
“The Tyburn Tree – Dark London”
John Harle
3 / 5
Apesar de ter conhecido primeira exposição nos terrenos de grande visão pop eletrónica dos Soft Cell e de ter experimentado espaços de relacionamento da canção pop com a torch song e, uma vez mais, as eletrónicas em discos a solo, Marc Almond nunca foi alma de se fechar entre as quatro paredes da identidade pop. E entre as experiências desafiantes com os Mambas em inícios dos oitentas, versões de Brel ou de canções russas ou colaborações com nomes como Phoetus, Psychic TV ou Current 93, a sua obra sempre conheceu horizontes vastos e o gosto pelo sabor da descoberta. O novo álbum que edita como fruto de uma parceria com o compositor e saxofonista John Harle – a que dão por título The Tyburn Tree – Dark London – é mais um exemplo dessa rara capacidade em sair de zonas de conforto, experimentar outras linguagens e, no final, acabar com mais um episódio digno de aplauso numa obra discográfica à qual não faltam, de facto, momentos relevantes. Com textos de Almond, convocando pontualmente palavras (mais antigas) de John Dee ou William Blake, o álbum apresenta histórias e personagens de Londres (algo que cruzou já várias vezes a discografia de Almond), num percurso com um cunho narrativo que, mais que propor um ciclo de canções, desenha aqui uma ideia dramática maior mais próxima das heranças da ópera (entendida num sentido lato) e do teatro musical. Com composições lançadas em climas sombrios, que ora valorizam o melodismo do canto, ora privilegiam elaboradas cenografias, as canções caminham por ruas mal iluminadas, de noite, entre figuras medonhas e histórias arrepiantes... Plasticamente o disco acolhe pontualmente ecos de heranças das óperas rock dos setentas, embora procure mais uma fuga a esses modelos, podendo juntar-se assim ao recente Dr. Dee de Damon Albarn, como exemplo de uma nova vaga de interesse de músicos pop/rock pelos terrenos do teatro musical. Juntamente com um single recente e a notícia de um álbum de estúdio que deverá chegar no verão, este disco é um sinal da saudável agitação criativa que Marc Almond está neste momento a viver.