segunda-feira, fevereiro 17, 2014
Foi como um regresso a casa
À chegada o ambiente era de familiaridade. Um pouco diferente talvez as rotinas de um dia de concertos de entrada livre e sem lugares marcados, a obrigar a uma diferente rotina nos acessos às salas, com o foyer junto ao bengaleiro a propor também uma programação e, ali perto, imagens a dar conta do que tinha acontecido durante oito meses. Ao cabo de 44 anos de vida, o Grande Auditório (e os espaços de bastidores e ensaio adjacantes) tinham conhecido uma profunda remodelação. Foram oito meses de trabalhos intensos, profundos, mas certeiros na agenda como um ponteiro do relógio. E no dia previsto, estávamos todos de volta a casa. Os músicos. E os espectadores.
Para quem entra na grande sala as diferenças parecem quase invisíveis. E essa era, desde logo, uma ideia firme: a de respeitar em tudo o projeto de Alberto Pessoa, Pedro Cid e Ruy d’Athouguia, que integra o corpo do museu e sede da fundação, que foi classificado como Monumento Nacional em 2010. As alterações focaram essencialmente melhoramentos tecnológicos e funcionais da sala, não descuidando em nada a sua acústica (uma das suas forças maiores), conforto e segurança. Os estofos das cadeiras foram renovados, replicando o que conhecíamos. Já sobre o palco nota-se uma nova canópia, mais leve que a original e mais capaz de responder às necessidades de apoio de luz ao palco.
Capacitado agora para responder às exigências tecnológicas do nosso tempo, e preparado para, além da música, acolher teatro e cinema, o novo Grande Auditório teve contudo num concerto o prato principal da longa jornada de abertura que decorreu ao longo deste sábado. Juntando à Orquestra Gulbenkian um conjunto de jovens músicos do Estágio Gulbenkian para Orquestra (EGO), o palco mal tinha espaço para mais gente e mais som. Uma Joana Carneiro merecidamente aplaudida em pé (juntamente com os músicos, claro) no final do serão conduziu-nos num programa que começou no Assim Falou Zaratustra de Richard Strauss e, depois do intervalo, nos propôs a muito rica (em cores, ritmos e percursos melódicos) Sinfonia Fantástica de Berlioz.
Se as escolhas de programa se mostravam desde logo inspiradas – note-se que em 2014 se assinalam os 150 anos do nascimento de Strauss e que os compassos de abertura da obra apresentada tomam parte central na banda sonora do filme 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, que ali foi projetado em horário late night – a interpretação conjunta pela orquestra em versão alargada foi em tudo brilhante, dos jogos de contrastes que ambas as obras revelam surgindo momentos capazes de nos expor uma vez mais às raras capacidades acústicas da sala.
Foi uma noite diferente e festiva. Foi como que um regresso a casa. Agora a temporada retoma o seu curso. O programa segue dentro de momentos...
Imagens do foyer na noite de reabertura do Grande Auditório. Filas de espera para entrar na sala. Música em formato informal, no piso inferior, junto aos bengaleiros e ao Auditório 3.