Um dos ditados mais ignorantes de sempre reza que “dos fracos não reza a história”. É uma frase plena de uma agressividade latente, certamente dita por um suposto “forte” numa atitude de exercício de poder, pelo medo, sobre os demais: os supostos fracos. As melhores (e mais sábias) palavras que ouvimos no espantoso Punk Rock, de Simon Stephens, que os Artistas Unidos têm em cena no Teatro da Politécnica até depois de amanhã, são precisamente proferidas por aquele que parece ser o mais “fraco” (afinal de todos o mais atento). Em poucas frases fala do mundo em que vivemos, dos desníveis sociais, do desequilíbrio ecológico, dos focos de conflito que ecoldem, da instabilidade civil. Diz-nos mesmo que daqui a 200 anos a nossa espécie terá tratado da sua própria extinção... Tudo o que diz faz estranhamente sentido e assusta. Iremos a tempo de o contrariar?
O texto (magnífico) é evidenciado numa cenografia discreta que valoriza assim as palavras (as ideias e as ações) e destaca as interpretações de um elenco jovem (e promissor). Estamos numa escola inglesa dos nossos dias. Ouve-se falar de White Stripes (dos quais ouvimos mesmo Fell In Love With A Girl) e de outras bandas indie... A Universidade espreita e as ideias de carreiras futuras passam por ali. Cruzam-se amores, aulas, matérias e exames. Mas é de jogos de poder, numa clara manifestação de bullying, que se define a hierarquia entre o grupo de estudantes que regularmente se encontram numa sala da escola à qual poucos mais parecem ir.
Intenso, Punk Rock é como as canções dos primeiros discos dos Wire. Tem tudo, tudo mesmo, concentrado e sem repetições desnecessárias. Sabe bem, mas tem também a capacidade de nos fazer pensar. O melhor teatro de 2014 em salas lisboetas passa garantidamente por ali.