Um reencontro com Harmonielehre é uma das propostas do alinhamento de um novo disco que assinala um feliz encontro entre a música de John Adams e as evidentes capacidades interpretativas da Royal Scottish National Orchestra, sob direção de Peter Oundijan. O alinhamento junta ainda a pequena fanfarra orquestral Short Ride In a Fast Machine, originalmente criada em meados dos anos 80. E junta a mais recente Doctor Atomic Symphony (2007), uma sinfonia em apenas um andamento (e talvez por isso várias vezes comparada com a “sétima” de Sibelius) que surge diretamente de um rearranjo de material musical nascido com a ópera Doctor Atomic, na qual Adams retrata a figura de Oppenheimer, tendo como cenário a base de Los Alamos e o local de teste da primeira detonação nuclear. O conflito do homem com a descoberta e as suas consequências, o debate entre a ciência e a utilização que pode ser dada ao que originalmente nasce como uma conquista do conhecimento, são fontes de tensão que a ópera explora, focando em concreto as dúvidas da figura de Oppenheimer. Tensões que esta sinfonia expressa, arrumando em três sequências – The Laboratory, Panic e Trinity – espaços orquestrais que trazem da ópera a alma que a assombra, mas aqui ganham vida própria.
domingo, dezembro 08, 2013
Novos olhares pela música de John Adams
Há pouco mais de um ano uma gravação de Harmonielehre surgia em disco resultado de uma interpretação da San Francisco Symphony Orchestra (sob direção de Michael Tilson Thomas), na verdade a mesma orquestra que há cerca de três décadas assegurara a estreia em disco desta mesma obra fulcral não apenas na carreira de John Adams mas no próprio mapa mundo do minimalismo. Claramente visíveis em parte da obra de Adams nos anos 80 (nomeadamente também na ópera Nixon in China, de 1987), os ecos do minimalismo servem aqui de base para uma linguagem orquestral que alargava todavia os horizontes a outras experiências (e outra demanda de liberdade). Depois das peças fundadoras dos quatro pilares do movimento – Young, Riley, Reich e Glass – esta obra orquestral de John Adams representava, um pouco como o fizeram na época algumas outras experiências orquestrais de Philip Glass e expressões europeias destas ideias, entretanto assimiladas por outros compositores, um momento de busca de caminhos novos e desafiantes, reencontrando igualmente ecos de experiências e tradições orquestrais mais remotas. Com o tempo a obra de John Adams ganhou outro fôlego e fulgor, desbravou outros terrenos, incorporou ecos de outras tradições orquestrais americanas, explorou memórias de figuras (e casos políticos), afirmando-se hoje como uma das mais pessoais, importantes e marcantes entre os demais compositores vivos.