Blood Orange
"Cupid Deluxe"
Domino / Edel
3 / 5
Dev Hayes é uma presença assídua em várias frentes do atual mapa da música popular. Londrino de berço, tem assinado e produzido canções para nomes como Sky Ferreira, os Chemical Brothers ou Florence & The Machine, já trabalhou em música para cinema e colaborou numa homenagem ao visionário Moondog. Com uma presença multiplicada em tantas frentes não espanta que até na hora de assinar a sua própria música o faça em espaços distintos. Não necessariamente criando heterónimos, mas através de projetos distintos, através dos quais canaliza rumos e demandas diferentes. Como Lightspeed Champion, por exemplo, tem procurado definir um percurso mais próximo dos paradigmas da canção de autor, com as guitarras como aliado prioritário. Mais interessante tem sido o seu percurso em paralelo sob a designação Blood Orange onde experimenta os espaços do R&B e suas periferias. Em 2011 Coastal Grooves serviu de cartão de visita para este terreno onde parece mais inspirado e através do qual se afirmava a capacidade de marcar presença em espaços de ligação entre os públicos da cultura indie e o R&B (e que tem em nomes como Frank Ocean ou The Weekend outros importantes timoneiros). Cupid Deluxe é um disco onde as marcas mais evidentes sugerem encontros com referências dos oitentas, em particular a etapa na obra de Prince em que o músico viveu experiências menos focadas no funk e mais próximas das formas da canção pop. Dev Hayes não faz contudo do disco um veículo para aplicação de uma receita de nostalgia. Convocando presenças como as de David Longstreth (dos Dirty Projectors), Caroline Polachek (dos Charlift) ou Skepta, o álbum é como uma sala de janelas abertas em todas as direções, respirando assim o ar rico em sabores da Brooklyn multicultural e vibrante do nosso tempo onde, de facto, o músico viveu por uns tempos antes de se instalar em Manhattan. Apesar do clima pop que caracteriza o disco (e de pontuais flirts com o hip hop), há breves investidas por outras fontes de inspiração, de ecos de um Philip Glass (fase anos 70) em Uncle Ace ao trabalho de percussões (que podem ter como modelo a obra de Steve Reich) em It Is What It Is.