domingo, novembro 10, 2013

Sinais de crise na CNN

Para onde vai o modelo mais tradicional de "canal-televisivo-de-informação"? Notícias recentes sobre as audiências da CNN d\ao que pensar — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (8 Novembro).

Soube-se esta semana que a CNN vive uma aguda crise de audiências. Os números referentes a Outubro indicam que a estação fechou o mês com uma média de 576 mil espectadores em horário nobre, valor que corresponde a uma perda de 45% em relação ao período homólogo de 2012.
Sendo o canal fundado por Ted Turner (em 1980) a referência pioneira no conceito televisivo de informação “24 horas por dia”, é natural que esta situação esteja a gerar as mais variadas (e muito interessantes) reflexões sobre a crise na CNN. Nos EUA, com toda a sua história exemplar de um jornalismo apostado numa permanente demarcação em relação ao poder político, há mesmo quem considere que um dos factores que tem contribuído para a queda da estação é a sua... neutralidade. Keach Hagey, crítico do Wall Street Journal, vai ao ponto de dizer que “a cultura da televisão por cabo nos EUA”, com vários canais politicamente “direccionados”, foi gerando uma fidelização de audiências que passaram a rejeitar o estilo mais abrangente ou distanciado da CNN.
Ted Turner
Como sempre, creio que a redução do problema a um mero confronto de números é simplista, podendo mesmo favorecer as interpretações mais moralistas e demagógicas. Parece-me difícil, sobretudo, equacionar a situação da CNN sem ter em conta que houve uma gigantesca deslocação de audiências (ou melhor, de impulsos de consumo) da televisão para o ecrã do computador.
Não me parece que seja possível avaliar a complexidade de toda esta conjuntura sem lembrar uma realidade muito crua e desarmante: os dois valores nucleares da CNN – a informação em directo + os jornalistas vedetas – tornaram-se elementos fracos no interior de um universo mediático em que o facto de se colocar alguém no centro da imagem, com um microfone na mão, tendo como pano de fundo o “acontecimento”, já não mobiliza automaticamente o desejo de ver (e saber) do espectador. Provavelmente, estamos a assistir ao princípio do fim de um modelo de comunicação que só terá a ganhar se arriscar repensar o seu relativismo histórico e tecnológico.