Erasure
“Snow Globe”
Mute Records
3 / 5
Tradição histórica na música popular desde o advento do formato do LP, o “disco de Natal” está longe de ser coisa formatada apenas no campo das descendências naturais dos crooners que lhes deram títulos de referencia (e sucesso) nos anos 50. Elvis foi mesmo dos primeiros a experimentar este terreno, desde então o espaço das canções de Natal tendo passado por discografias tão diversas quanto as de James Brown, os Pet Shop Boys, a família McGarrigle/Wainwright, Kristin Hersh, Sufjan Stevens, ou os Raveonettes, nos últimos anos este tendo-se revelado mesmo um espaço tão caro aos vultos globais do mainstream como a vozes vindas de terreno indie. Entre a multidão de títulos que a temporada nos vai trazer destaca-se desde já uma proposta assinada pelos veteranos Erasure (que no próximo ano celebram 30 anos de atividade). O espaço da canção de Natal não lhes é estranho, tanto que em finais de oitentas lançaram uma segunda versão do EP Crackers International com capa de temática natalícia e alinhamento parcialmente em sintonia com a quadra. A atravessar um deserto (de ideias e de reconhecimento) há já largos anos, com uma obra relativamente inconsequente desde a alvorada dos noventas – e apenas pontuais frestas de interesse no alinhamento de Light At The End of The World (2007) – Vince Clarke e Andy Bell optaram aqui por um reencontro com a sonoridade mais próxima dos registos clássicos da fase The Innocents (1988) / Wild (1989) / Chorus (1991). E convenhamos que, juntamente com The Circus, de 1987, foi então que viveram a melhor etapa da sua carreira. O alinhamento de Snow Globe cruza inéditos com versões (entre estas havendo tanto uma incursão pela música de Gustav Holst como por cânticos “clássicos” de Natal). Na verdade o mundo não ganha muito ao ouvir os sintetizadores de Vince e a voz de Andy a caminhar entre leituras sem surpresa maior de White Christmas ou Silent Night. Mas é nos originais, entre Bells of Love, Loving Man, Make it Wonderful e, sobretudo, o festivo e dançável There’ll Be No Tomorrow, que reencontramos um viço pop que faltava aos Erasure desde os dias de I Say I Say I Say... O Natal aqui serve de motivo para um disco. Mas, mesmo perante a elegância dos arranjos apresentados (com o devido fiozinho de azeite), é para além das propostas natalícias que está o melhor deste disco.