David Bowie
“Extra EP”
Iso / Sony Music
4 / 5
Depois da surpresa que, em janeiro, nos dava conta do regresso aos discos de David Bowie, o mês de março confirmou em The Next Day o seu melhor álbum desde inícios dos oitentas, o momento valendo também ao músico um reencontro com um patamar de popularidade como há muito não conhecia, o disco alcançando lugares nas tabelas de vendas acima do que tinha vivido desde meados dos anos 80. Seguiram-se soberbos telediscos para The Stars Are Out Tonight ou para o tema-título do álbum. E quando cada vez parece certo que não haverá mesmo digressão a acompanhar o disco, eis que o final do ano junta ao álbum uma série de extras que assim complementam a sua história. Um lançamento com 2 CD e um DVD junta ao alinhamento um segundo CD com temas das mesmas sessões (quatro deles inéditos, outros quatro já usados em edições especiais entre a Europa e o Japão) e mais duas remisturas, trazendo o DVD os quatro primeiros telediscos criados para canções do disco. Para (apenas) edição digital surge entretanto um EP que junta sete desses temas do CD2 (deixando de fora Plan, I'll Take You There e So She, já usados entre nós como extras na edição especial do álbum em CD, lançada em março). Tal como no alinhamento de The Next Day, o que ouvimos neste EP de “extras” corresponde a novo conjunto de incursões de Bowie por terreno clássico, sob evidente presença de ressonâncias de ecos de outras etapas da sua discografia. Entre o fulgor elétrico de Atomica, o travo clássico de The Informer, Like A Rocket Man ou Born in A UFO (qualquer destes três podia ter morado entre as canções de Heathen) e o não menos cativante God Bless The Girl, que já surgira como extra de uma edição do álbum no Japão surgem cinco belíssimas novas canções que têm tudo menos alma de “sobra”. O EP junta uma remistura algo pouco transformadora para I'd Rather Be High (onde se destaca sobretudo a presença de um cravo) e aquela que é a sua piéce de resistence: uma longa e espantosa operação de metamorfose operada por James Murphy sobre Love Is Lost, sugerindo uma Hello Steve Reich Mix (como lhe chama) que transporta a canção para um espaço dominado pelas eletrónicas que juntam ainda, em jeito de citação, elementos do clássico Ashes To Ashes de 1980. Tal como o disco editado em março, a amplitude de ideias é vasta, unindo-a a voz clara de Bowie e o modo como a todos os momentos sentimos que estamos entre terreno que é seu (e que lembra o que já fez). A remistura de James Murphy abre contudo nova janela... E dá vontade de sonhar que mais poderia nascer se o resto destas canções lhe tivesse ido parar às mãos...