segunda-feira, novembro 18, 2013

Novas edições:
The Beatles, On Air: Live At The BBC Volume 2

The Beatles
"On Air: Live at the BBC Volume 2"
Apple Records / Universal
4 / 5

10 de janeiro de 1962. Faltavam ainda nove meses para Love Me Do e um ano para Please Please Me, e um contrato com uma editora estava ainda para lá da linha do horizonte. O manager Brian Epstein enviava à BBC uma carta na qual referia que os Beatles estavam a tocar profissionalmente há 18 meses, que eram o grupo mais popular pela região de Liverpool (onde havia então cerca de trezentas bandas) e que tinham já atuado na Alemanha e em diversas localidades no Reino Unido. A carta, que juntava os temas Till There Was You, Like Dreamers Do e três outras canções, destinava-se a solicitar uma audição do grupo para eventual gravação de sessões para emissão. A 8 de março o programa Tennagers Turn - Here We Go passava as três primeiras gravações para a BBC, encetando um relacionamento do qual resultariam, nos anos seguintes, perto de noventa canções e uma série de entrevistas.

É a esse vasto conjunto de memórias que regressamos em On Air - Live at the BBC Volume 2, novo disco duplo de gravações ao vivo captadas em sessões para a estação pública de rádio e televisão no Reino Unido. Editado em 1994, sob coordenação de George Martin (que produziu todos os discos do grupo salvo Let It Be), Live at the BBC juntava 53 gravações captadas entre 1963 e 1965, gerando um fenómeno de vendas expressivo, até porque assinalava a primeira edição de gravações inéditas dos Beatles desde o álbum ao vivo The Beatles at the Hollywood Bowl e, dada a inexistência deste em suporte digital, representava também o primeiro lançamento de gravações ao vivo do grupo em CD.

Dezanove anos depois este segundo volume continua a história que ali se contava, abrindo mais ainda os baús do arquivo da BBC do qual foram retiradas agora gravações registadas entre 1963 e 1966 (a esmagadora maioria é de 1963 e 1964). “Quando escuto as gravações para a BBC há ali muita energia”, escreve Paul McCartney num texto que abre o booklet que acompanha esta edição e no qual é detalhadamente explicada a proveniência das gravações (umas de canções, outras de entrevistas, aqui com um ou outro disparate, como era da praxe beatlesca).

A maior parte destas gravações surgiu num período em que, por um lado, muita da música transmitida pela BBC era gravada (ou tocada ao vivo) nos seus estúdios e, por outro, aos Beatles não era ainda concedido o tempo de estúdio que teriam mais tarde, quando criaram obras-primas, resultado do labor intenso entre grupo, produtor e técnicos. Sob as limitações da tecnologia da época, mas apresentando as gravações devidamente restauradas, esta coleção ajuda a definir melhor o retrato “ao vivo” dos fab four que tão escassa discografia conhece.

São gravações em estúdio, é certo, mas foram gravadas em sessões ao vivo. E, juntamente com as que faziam um primeiro volume editado há 19 anos, fazem a história digitalmente disponível das memórias live dos Beatles. Além das esperadas gravações de temas de sua autoria e de várias versões (e convém lembrar que gravaram várias nos seus discos criados entre 1963 e 1964), este segundo volume inclui frequentes faixas faladas que recuperam intervenções de elementos dos Beatles e de DJ da BBC durante as emissões. E junta, como faixas extra no final do segundo CD duas entrevistas (conduzidas em 1966 por Brian Matthew) com Paul McCartney e Ringo Starr onde, apesar do tom informal, um agradável tom de seriedade entra em cena.

PS. Este texto foi originalmente publicado na edição de 12 de novembro do DN