Foi uma surpresa. Ontem ao início do serão, quem aguardava pela vez de entrar na Sala 4 do Cinema Monumental foi convidado a assistir a um programa “extra”, certamente cortesia do realizador Roman Coppola, que marca presença nesta edição do Lisbon & Estoril Film Festival para apresentar o seu novo Dentro da Cabeça de Charles Swan III (que era, precisamente, o filme da noite naquela sala). A surpresa chegou na forma de Here Comes The Night Time, uma curta de cerca de 20 minutos criada no âmbito do programa de promoção de Reflektor, o novo álbum dos Arcade Fire.
Estreado na NBC e sobejamente visto e partilhado na internet, Here Comes The Night Time é um breve-filme concerto que tinha por missão central revelar três novas canções do álbum (que, recorde-se, não estava ainda editado nem sequer era coisa já escutada). O centro da acção é o espaço de uma discoteca com aquela carga visual exuberante dos tempos das bolas de espelhos, néons e luzes. Em palco, os Arcade Fire apresentam as canções (com o violinista Owen Pallett novamente entre os músicos). A seu lado, partilhando o espaço cénico, surgem breves cameos de figuras como Bono, Ben Stiller ou James Franco, a chuva de estrelas estendendo-se depois a breves sketches que se cruzam com as imagens da atuação.
Here Comes The Night Time nem é um teledisco nem tem o fôlego de uma longa-metragem de um filme-concerto. O humor que se cruza com os episódios de palco serve o tempero do sorriso de ocasião surge como um tempero que pouco mais faz que estabelecer um contacto a quem eventualmente esteja menos focado na música sem contudo desviar nunca o filme do seu objetivo central. E no fim, as canções agradecem.
Uma exposição no Estoril
É um grande rosto e olha-nos atento, bem de frente, mal entramos no foyer do Centro de Congressos do Estoril. É um rosto anónimo, que contudo vai revelando outras formas consoante os pontos de vista que conquistamos ao caminhar em volta desta peça, suspensa do teto e feita de várias camadas. Esta nova obra de VHILS expressamente criada para a sétima edição do Lisbon & Estoril Film Festival é assim a protagonista de uma mostra de trabalhos seus (e também de fotos de outros criados noutras cidades) que estará ali patente durante os próximos dias, até ao dia de encerramento do certame.
Reconhecido como VHILS sobretudo por rostos escavados em paredes – criados com o recurso a martelos pneumáticos, explosivos, lixívia ou ácido – que podemos encontrar já em várias cidades espalhadas pelo mundo, ele é contudo apresentado no seu bilhete de identidade como Alexandre Farto. É português, cresceu no Seixal, estudou mais tarde em Londres, teve primeiros episódios de visibilidade em Lisboa mas ganhou notoriedade internacional no Cans Festival, em 2008.
“A minha ideia é a de mostrar o anonimato” que em meio urbano “se impõe de alguma maneira” e no qual nos “diluímos”, explicou o artista durante a inauguração informal que abriu o segundo dia da presente edição do festival. Este seu novo projeto, como de resto acontece em muitas das suas criações, explora também as noções de “construção e desconstrução”. Ou seja, “vista de um ponto a peça está construída e, de outro ponto, começa a estar desconstruída”. No fundo, “a pessoa que vê cria assim, ela própria, a peça”, pelo que, “dependendo do ponto em que está” no espaço do foyer do centro, cada qual vai definindo a sua “abstração ou a forma” da peça.
A noção da construção e destruição é transversal à obra de VHILS, que aí identifica também uma forma de refletir sobre “não bem a discriminação, mas mais o preconceito que existiu em relação ao graftti durante muitos anos”. Reflexão que por várias vezes também o confrontou com as noções de “vandalismo” e o questionar do que é, afinal, a arte. “Essa dicotomia sempre me cativou e transmite-se no trabalho que faço”, reconhece, lembrando que o grafitti, a street art em geral, representam algo “que transgride um pouco as regras do status quo”, explicou.
“Portas, paredes, os excedentes que a cidade deita fora” são elementos que trabalha e que representam como que “uma palete de cores” desse mesmo espaço urbano sobre o qual age. Há, por isso, sempre nas suas obras uma relação com o espaço onde está. Pelo que agora, ao preparar uma peça para o Estoril, entendeu o esforço como “naturalmente, um fruto do que está ali à volta”. Criar uma peça para um festival de cinema levou-o contudo a um “espaço difícil”, mas que viu como “um desafio” que “faz sentido”, até porque o cinema é uma das fontes onde vai “beber muita inspiração”.
A peça site specific que VHILS criou para o festival não tem nome. “Eu tenho as minhas razões e o meu próprio conceito, mas gosto de deixar sempre uma margem a quem está a ver a peça. Cada pessoa criará o seu conceito e a peça não é por isso estanque... “, conclui.
Foto: LEFFEST |
É um grande rosto e olha-nos atento, bem de frente, mal entramos no foyer do Centro de Congressos do Estoril. É um rosto anónimo, que contudo vai revelando outras formas consoante os pontos de vista que conquistamos ao caminhar em volta desta peça, suspensa do teto e feita de várias camadas. Esta nova obra de VHILS expressamente criada para a sétima edição do Lisbon & Estoril Film Festival é assim a protagonista de uma mostra de trabalhos seus (e também de fotos de outros criados noutras cidades) que estará ali patente durante os próximos dias, até ao dia de encerramento do certame.
Reconhecido como VHILS sobretudo por rostos escavados em paredes – criados com o recurso a martelos pneumáticos, explosivos, lixívia ou ácido – que podemos encontrar já em várias cidades espalhadas pelo mundo, ele é contudo apresentado no seu bilhete de identidade como Alexandre Farto. É português, cresceu no Seixal, estudou mais tarde em Londres, teve primeiros episódios de visibilidade em Lisboa mas ganhou notoriedade internacional no Cans Festival, em 2008.
“A minha ideia é a de mostrar o anonimato” que em meio urbano “se impõe de alguma maneira” e no qual nos “diluímos”, explicou o artista durante a inauguração informal que abriu o segundo dia da presente edição do festival. Este seu novo projeto, como de resto acontece em muitas das suas criações, explora também as noções de “construção e desconstrução”. Ou seja, “vista de um ponto a peça está construída e, de outro ponto, começa a estar desconstruída”. No fundo, “a pessoa que vê cria assim, ela própria, a peça”, pelo que, “dependendo do ponto em que está” no espaço do foyer do centro, cada qual vai definindo a sua “abstração ou a forma” da peça.
A noção da construção e destruição é transversal à obra de VHILS, que aí identifica também uma forma de refletir sobre “não bem a discriminação, mas mais o preconceito que existiu em relação ao graftti durante muitos anos”. Reflexão que por várias vezes também o confrontou com as noções de “vandalismo” e o questionar do que é, afinal, a arte. “Essa dicotomia sempre me cativou e transmite-se no trabalho que faço”, reconhece, lembrando que o grafitti, a street art em geral, representam algo “que transgride um pouco as regras do status quo”, explicou.
“Portas, paredes, os excedentes que a cidade deita fora” são elementos que trabalha e que representam como que “uma palete de cores” desse mesmo espaço urbano sobre o qual age. Há, por isso, sempre nas suas obras uma relação com o espaço onde está. Pelo que agora, ao preparar uma peça para o Estoril, entendeu o esforço como “naturalmente, um fruto do que está ali à volta”. Criar uma peça para um festival de cinema levou-o contudo a um “espaço difícil”, mas que viu como “um desafio” que “faz sentido”, até porque o cinema é uma das fontes onde vai “beber muita inspiração”.
A peça site specific que VHILS criou para o festival não tem nome. “Eu tenho as minhas razões e o meu próprio conceito, mas gosto de deixar sempre uma margem a quem está a ver a peça. Cada pessoa criará o seu conceito e a peça não é por isso estanque... “, conclui.
PS. Este texto sobre a exposição de VHILS foi originalmente publicado na edição de 10 de novembro do DN com o título 'Rosto sem nome de VHILS nasceu ontem no Estoril'.