Shostakovich continuou a compor. Mas já perante uma data para a estreia, em São Petesburgo (então Leninegrado) em finais de 1936, acabaria por cancelar a apresentação da obra, publicando um artigo onde prestava justificações que, mais tarde, seriam refutadas. Tinha sido vetada, não necessariamente voluntariamente retirada para uma eventual reflexão e possível revisão. Pressionando a retirar da programação a estreia da sinfonia, o diretor da orquestra terá pressionado o compositor nesse sentido, soube-se nos anos 60 pelo relato do então secretário de Shostakovich.
Durante a guerra perdeu-se o manuscrito inicial. Mas de fragmentos de esboços Shostakovich refez a partitura em 1946, chegando mesmo a apresentar então particularmente uma versão para dois pianos. Só depois da morte de Estaline (em 1953) considerou dar vida a esta obra silenciada desde 1936. E em 1961 viu finalmente a luz do dia em Moscovo, conhecendo depois primeira audição internacional na edição de 1962 do Festival de Edimburgo. Reveleva-se uma obra de um fulgor impressionante nos dois mais longos andamentos exteriores (o primeiro e o terceiro), pelo meio surgindo um outro, mais curto, claramente influenciado pela música de Mahler, que Shostakovich então estudava atentamente. A obra revela evidentes sinais de busca de uma linguagem muito pessoal e representa a afirmação de uma visão na qual reconhecemos claramente as marcas da personalidade do compositor. E assim a voz do compositor sobreviveu ao silêncio desejado pelo ditador.
A presente gravação, assinada por Vasily Petrenko com a Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, é mais uma contribuição (em concreto a penúltima) para uma integral sinfónica do compositor que a Naxos tem vindo a editar nos últimos anos e que é já reconhecida como uma abordagem de referencia à obra orquestral de Shostakovich.