segunda-feira, outubro 07, 2013

Novas edições:
Vários Artistas / Peter Gabriel,
And I'll Scratch Yours

Vários Artistas / Peter Gabriel
“And I’ll Scratch Yours”
Real World / Universal
3 / 5

Esta é a segunda parte de um díptico que começou a ganhar forma há uns três anos e que, originalmente, deveria ter sido discograficamente concluído pouco depois do lançamento do primeiro deste par de álbuns. Com Peter Gabriel como protagonista, o par de edições centrava-se numa ideia simples: a partilha de versões. Ou seja, numa etapa Peter Gabriel gravaria canções de outros nomes. E, nesta segunda, caberia a uma série de convidados o desafio de registar versões de canções originais de Peter Gabriel. Editado em 2010, Scratch My Back, de Peter Gabriel, apresentava leituras, personalizadas, de temas como Heroes de David Bowie, The Boy In The Bubble de Paul Simon, My Body is A Cage dos Arcade Fire, Listening Wind dos Talking Heads ou Street Spirit (Fade Out) dos Radiohead, juntando ainda temas de Neil Young, Lou Reed, Regina Spektor, Elbow, Bon Iver ou Randy Newman. Agora, depois de tão bem ter coçado as costas de uma notável multidão de canções (e autores) chega a resposta, que começa logo pela forma direta como o título sugere que agora é a vez dos outros o coçarem... And I’ll Scratch Yours é de certa forma um disco-tributo à obra de Peter Gabriel. Porém, ao contrário de muitos projetos coordenados por editoras, revistas (como o foi o I’m Your Fan, dedicado a Cohen, conduzido pela Les Inrockuptibles) ou comissariadas por admiradores, esta foi coordenada pelo próprio “homenageado”. Coube de resto a Peter Gabriel a decisão de avançar pela edição deste segundo disco nesta altura do campeonato, cansado que estava de esperar pelas eventuais contribuições planeadas que não se chegaram a materializar. A ideia original era a criação de um par em que os nomes por si abordados num dos álbuns fossem os mesmos que depois avançariam sobre as suas próprias canções. Apesar de algumas diferenças pontuais, And I’ll Scratch Yours apresenta mesmo assim um corpo comum de nomes com o álbum de 2010. O alinhamento final fala todavia por si, e revela um dos mais agradáveis entre os muitos discos de versões / tributos que por aí andam. David Byrne e Arcade Fire assinam leituras espantosas, respetivamente de I Don’t Remember e Games Without Frontiers. Lou Reed faz de Solsbury Hill uma canção “sua”, o mesmo se podendo dizer da abordagem de Stephin Merritt (dos Magnetic Fields) a Not One Of Us ou a Biko, segundo Paul Simon (numa curiosa ligação, via The Boy In The Bubble que Gabriel reinterpretou, à relação com a África do Sul que o músico talhou nos dias de Graceland). O alinhamento apresenta ainda leituras pessoais de Big Time segundo Randy Newman, Blood of Eden por Regina Spektor ou de Feist, com Timber Timbre, em Don’t Give Up. Brian Eno revisita um espaço da música elétrica onde há muito não caminhava em Mother of Violence. Joseph Arthur não impressiona lá muito em Shock The Monkey. E Bon Iver e os Elbow não parecem conseguir vencer a deferência perante os originais em Come Talk To Me e Mercy Street. Mas no fim, ao cabo de 12 versões, a colheita satisfaz. Poucas vezes vemos reunido um tão nutritivo volume de versões num disco só.