Prestem atenção e fixem este nome: Diogo Baldaia... Ele é o realizador de Fúria, uma curta-metragem documental que podemos ver como parte da secção Verdes Anos, da edição deste ano do DocLisboa (passa hoje, em sessão única, na Sala 3 do Cinema São Jorge pelas 16.15) e que é simplesmente um dos melhores documentários made in Portugal que vi nos últimos meses.
Sem talking heads, todo o texto habitando assim o contexto, Fúria leva-nos a um clube de boxe num bairro que não é de gente rica. Um clube com uma classe para iniciados que ali vemos, luvas nas mãos, ensaiando os gestos, os passos e os socos. Que são prática de um desporto mas também veículo de libertação de uma agressividade (que, como o desejo de competir, não são de estranhar naquelas idades). É entre sorrisos e momentos de atenção que, juntos, treinam. Com o mesmo fulgor e dedicação com que depois correm de bicicleta ou brincam lá fora.
A câmara escuta os seus movimentos, desviando-se a aproximando-se como numa dança de passos que quer ver e ser atenta, transportando-nos para aquele espaço, as suas regras e ritmos. Assistimos aos treinos, aos olhares que se cruzam, à competição, à vitória de uns e derrota de outros. Sem palavras que não as que a verdade criou naqueles momentos, Fúria sabe afinal contar uma história. Não nos diz exatamente quem são aqueles miúdos. Mas ainda é cedo para invadirmos os seus nomes. Haverá tempo para isso.