quinta-feira, outubro 31, 2013
Doc Lisboa 2013 (dia 8)
Para que não fiquem dúvidas, deixo desde já bem claro que sempre gostei (e muito) do álbum de estreia dos Stone Roses, LP que mora claramente entre o meu Top 20 dos melhores discos dos oitentas. Juntamente com singles como One Love ou Fool’s Gold, exteriores ao alinhamento de The Stone Roses (1989), o trabalho do grupo (de Manchester) representou, na reta final dos anos 80, um dos mais interessantes focos de acção sobre memórias e heranças da linguagens de finais dos sessentas, encontrando nelas um ponto de partida para diálogos com a cultura indie do seu tempo, a dada altura contribuindo também para o aprofundar da criação de um novo patamar de entendimento dos espaços pop/rock com os ecos da revolução que recentemente tinha brotado no espaço da música de dança. O impacte que o disco então teve não deixou ninguém indiferente, e muitos são os que também nele reconhecem um episódio maior na história da discografia pop/rock. Mas depois… Mas depois sucedeu-se uma longa batalha jurídica com a editora, afastando as suas atenções da música para outras preocupações. E quando regressaram, com um segundo álbum, o encantamento do primeiro tinha-se dissipado, um fim de linha chegando algum tempo depois. Apesar da quase unanimidade gerada em torno do álbum de estreia, o segundo disco dividiu opiniõpes, com mais polegares para baixo que para cima. Esta divisão pode aplicar-se agora a The Stone Roses – Made of Stone, filme de Shane Meadows (o mesmo realizador de This Is England), que tem tudo para encantar os admitadores do grupo, mas pouco fará pelos que, desde 1989, neles não reconhecem senão um daqueles casos de inspiração pontual que gerou um momento e nada mais (e nem vamos falar dos seus concertos ao vivo, OK?).
Esse foco de atenções numa eventual busca do como e porquê aqueles quarto homens aparentemente desinteressantes (pelo menos é essa a imagem que deles este filme hoje mostra) terão gerado um disco tão marcante em 1989 seria um belo ponto de partida para um filme… Mas o que este documentário (que hoje passa no Lux às 23.00) ilustra não é senão o momento da sua reunião recente, com digressão logo a seguir.
A câmara de facto entra no seu mundo. Encontra-os antes da conferência de imprensa que anunciou a reunião, vai com eles à sala de ensaio, escuta os pequenos grandes dramas que se sucedem, e acaba por subir ao palco. Pelo caminho junta imagens de arquivo, lembra canções… Mas há pouco mais aqui que um olhar sobre o que acontece, não parecendo o filme querer ir mais além do que poderia ser um making of para um extra de um eventual filme-concerto. Para uma oportunidade de tamanha intimidade (ou aparente intimidade) com um grupo em tempo de reunião, o filme acaba por não revelar muito mais senão o que são os gestos, as graçolas, as conversas, as canções. A câmara consegue ser invisível. Mas não vê senão o que tem pela frente.