O sétimo dia do Queer Lisboa 17 mantém atenções centradas na secção Queer Focus (que ontem apresentou Boy Eating The Bird’s Food) e Queer Art. Hoje são também apresentados dois work in progess de António da Silva e André Murraças (Sala Montepio, 19.00) e uma série de títulos da competição de Longas Metragens. Entre estes três conta-se a repetição de The Comedian, estreado na noite de ontem (17.15, Sala Manoel de Oliveira) e a estreia de Facing Mirrors, uma narrativa passada no Irão dos nossos dias. Diz a sinopse: “Passado no Irão actual, Facing Mirrors é a história de uma invulgar e ousada amizade que se desenvolve apesar das normas sociais e crenças religiosas. Embora Rana seja uma mãe e esposa tradicional, é forçada a conduzir um táxi de forma a pagar as dívidas que levaram o marido à prisão. Por acaso, apanha um dia a rebelde e rica Edi, que espera, desesperadamente, um passaporte para sair do país. A princípio Rana tenta ajudá-la, mas quando se apercebe que Edi é transsexual, uma série de conflitos perigosos emergem. Facing Mirrors é a primeira ficção iraniana com um protagonista transsexual.” O filme passa às 19.30 na Sala Manoel de Oliveira.
À noite, na Sala Manoel de Oliveira, passa o filme chileno Joven Y Alocada. Já a seguir fica o este destaque com um texto de minha autoria que integra o catálogo do festival (e a sua expressão online).
Joven Y Alocada
(Sala Manoel de Oliveira, 22.00)
Nos últimos anos, e cada vez mais, o Festival de Sundance (que, podemos dizer, abre oficialmente a nova época festivaleira a cada Janeiro que passa) tem revelado títulos que marcam incontornavelmente os meses que se seguem, tanto entre as programações de outros festivais como mesmo nos mapas locais de distribuição de cada país. Em 2012 Joven Y Alocada ali se afirmou como mais um “caso” notável, de Sundance saindo com um prémio para Melhor Argumento, daí partindo para uma carreira de expressiva visibilidade que passou já por festivais como a Berlinale ou San Sebastian.
Assinado pela chilena Marialy Rivas (de quem o Queer Lisboa já apresentou a curta Blokes), Joven Y Alocada representa também mais uma expressão de um cinema que procura reflectir e representar a idade da comunicação online. Um blogue é aqui um ponto de partida. Um blogue – com o título do próprio filme – onde a jovem protagonista (no limiar da idade adulta) dá conta de um dia a dia dividido entre o desejo, as dúvidas e as descobertas habituais na sua idade e um quotidiano sistematicamente vigiado por uma mãe conservadora e intolerante que aplica a cada lufada de ar que respira as regras de uma conduta castradora. Filha de uma família evangélica, Daniela é expulsa do colégio porque fez sexo antes do casamento. Como “castigo” é colocada num canal de TV religioso. Entre um namorado e o desejo que desperta em si a proximidade de uma amiga, acompanhamos o debate interior de Daniela ao mesmo tempo que os seus leitores, que vão lendo os “evangelhos” de alguém que não acredita que outros possam pensar por si.
Retrato de juventude que olha para pessoas e não para estereótipos, Joven Y Alocada procura por um lado cruzar a linguagem visual da comunicação online com o cinema. E, como Daniela, acredita que questionar é na verdade coisa mais sagrada à espécie humana que, simplesmente, acreditar.