Gilberto Gil é o protagonista do documentário Viramundo: uma viagem em que, implicitamente, estão em jogo as virtudes e limites da noção de "globalização" — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (16 Agosto), com o título 'Cinema & televisão'.
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Esta semana foi lançado entre nós o documentário Viramundo, sobre Gilberto Gil. Será esta uma notícia cinematográfica? Sim, sem dúvida, mas com curiosas ramificações televisivas. Aliás, em boa verdade, a notícia aponta para novos vectores culturais e comerciais que já não será possível descrever através da tradicional dicotomia cinema/televisão.
Acontece que o lançamento de Viramundo, da responsabilidade da distribuidora Alambique, está integrado num projecto de difusão de filmes, “The Tide Experiment” (com chancela do programa Media, da União Europeia), empenhado em diversificar alternativas de consumo. Como se diz na definição do próprio projecto, trata-se de apostar nos serviços de um “marketing transversal”.
Assim, Viramundo surgiu, em simultâneo, nas salas de cinema (Lisboa, Porto e Coimbra), nos videoclubes da televisão por cabo e no Facebook da Alambique. Em causa está a criação de um contexto de dissuasão das formas ilegais de download. Mas não só: estratégias deste género tentam corresponder a uma nova conjuntura tecnológica e simbólica que não pode ser reduzida à nostalgia da cinefilia clássica.
Curiosamente, também esta semana foi divulgado um novo projecto de que os ecrãs privados serão o alvo principal. Assim, uma publicação tão importante como a revista Time anunciou o lançamento, na Internet, do documentário One Dream, evocando os cinquenta anos do célebre discurso de Martin Luther King Jr. (“I have a dream...”). Será a primeira proposta de uma nova unidade de produção, Red Border Films, criada pela Time para desenvolver a sua intervenção jornalística também no domínio do documentarismo online.
Ninguém pode dar garantias sobre o impacto destas iniciativas. Em todo o caso, a sua simples existência envolve uma energia positiva. O que está em jogo é, não apenas o esgotamento de modelos tradicionais de difusão cinematográfica, mas também a necessidade de pensar o audiovisual caseiro para além das normas da televisão generalista.