quinta-feira, agosto 08, 2013

Reposições de verão:
'Os Juncos Silvestres' (1994)

Apesar de ter estrado nos cinemas, Os Juncos Silvestres nasceu de um desafio televisivo, sendo o filme de André Techiné um desenvolvimento de uma ideia que integrou esse projeto para TV sobre o mote ‘Tous Les Garçons El Les Filles de Leur Age” (expressão que nos transporta imediatamente para 1962 e para a canção, com título semelhante – Tous les garçons et les filles de mon age – que na altura lançou a carreira de Françoise Hardy).

O filme, estreado em 1994 (tal e qual o episódio da série assinado por Techiné), transporta-nos de facto para a França de inícios dos anos 60. Numa localidade rural do sul do país são-nos apresentadas narrativas que se cruzam em torno dos alunos de um internato masculino, uma professora e a sua filha e a família de um dos alunos, entre estas figuras e espaços traçando-se um discreto retrato da época, entre os horizontes de uns que se esgotam naquela comunidade e a sede de descoberta mais além de outros (a saída de uma sala de cinema, onde passa um Bergman, sugerindo o fosso sócio-cultural que separa as personagens, as suas vivências e desejos).

A acção centra-se entre três rapazes e uma rapariga. Eles são François (Gael Morel), um jovem intelectual que se confronta com a sua sexualidade nesse verão; Serge (Stephane Rideau), filho de camponeses emigrantes italianos cujo irmão mais velho morre na Argélia; Mariani (Fréderic Gorny) de berço argelino e firme oponente à independência da Argélia e Maité, a filha da professora de francês dos três primeiros. Techiné, que retrata a época não apenas pela expressão dos costumes e a evidência do confronto militar em curso, mas também pela frequente presença de uma banda sonora rock’n’roll, divide as atenções entre o trio amoroso que junta François, Serge e Matité (o primeiro desejando o segundo, o segundo a terceria, esta mantendo um desejo platónico pelo primeiro) e os focos de conflito que a presença de Mariani (e da sua visão da guerra na Argélia) acrescenta a uma narrativa que assim transcende o mero coming of age para, de facto, ser também um retrato de um tempo e de um lugar.

A direção de fotografia, que capta de forma exemplar a luminosidade e as cores do verão rural francês define aqui um clima que acolhe, com a placidez característica do verão, os jogos de ideias e emoções que a história acompanha. Esta é, talvez, a obra-prima do cinema de Techiné.