1. A edição do dia 17 de Agosto do jornal Metro, de distribuição gratuita, faz-se sob o signo de "um Verão de deslumbre", propondo alguns "destinos de sonho" e outras hipóteses de férias. Quer isto dizer que, daqui a 50 ou 100 anos, quando alguém tentar compreender a nossa época, deparará com este optimismo fulgurante, para mais formulado por uma publicação, como agora se diz, abrangente e transversal — no Verão de 2013, a serenidade do luxo era a nossa imagem de marca.
2. Não posso esconder que, genericamente, o conceito de imprensa "grátis" me suscita uma automática resistência: mesmo sem que isso levante qualquer dúvida sobre a competência e dedicação dos respectivos profissionais, vejo a cultura do jornal concebido para "usar-e-deitar-fora" como uma irremediável desvalorização simbólica do próprio produto que, afinal, perversamente, "democratiza".
3. Em todo o caso, há aqui uma contradição conceptual que vale a pena referir. Podemos resumi-la numa pergunta: se é verdade que jornais como este são produzidos visando, especial e prioritariamente, os cidadãos com menores possibilidades financeiras, que sentido faz sugerir uma visita à zona "chique" de Istambul ou a uma cervejaria de Copenhaga? A tentação moralista é mesmo muito forte: até que ponto este festivo liberalismo lúdico não se confunde com uma enorme hipocrisia social? Afinal de contas, esta é uma imprensa que diz fundamentar-se num conhecimento agudo das características dos seus leitores, seus horizontes e necessidades. Diz-me com que te deslumbras...