1. Durante o período em que José Mourinho treinou a equipa do Real Madrid, sempre me pareceu que o jornal espanhol Marca se assumia como simpatizante da equipa (e não estou, obviamente, a dar uma novidade a quem quer que seja). Nunca vi nisso qualquer problema, já que, também aqui (o mesmo se poderá dizer de um órgão generalista face à cena política), me parece mais salutar explicitar simpatias do que fingir ecumenismos. Aliás, sintoma exemplar: a proximidade afectiva com o Real nunca impediu a Marca de dar o devido valor às proezas do Barcelona, o maior rival da equipa de Madrid.
2. Acontece que a Marca parece confundir o entusiasmo clubista com as mais grosseiras formas de fulanização. Por não gostarem do estilo de Mourinho? Talvez. Em boa verdade, qualquer admirador de Mourinho (é o meu caso) consegue compreender os muitos desagrados ou resistências que a sua postura sempre suscitou. Resta saber se isso é uma boa razão para passar de uma tolerância ambígua, mas efectiva, para a classificação da pessoa como "o inimigo" — aconteceu agora, antecipando a final da International Champions Cup, a ser disputada entre o Chelsea, agora treinado por Mourinho, e o Real Madrid (recorte em cima).
3. Não sou dos que "explicam" os atentados de alguns adeptos (de qualquer equipa) contra o "fair play", considerando que a imprensa é "culpada" de tudo... Nem confundo um jornal com toda a imprensa. Em todo o caso, vale a pena perguntar que efeito pode ter no comportamento geral desses mesmos adeptos — e, de um modo geral, na percepção do desporto — este tipo de intervenção "jornalística". Vale a pena questionar a saúde emocional e a sageza intelectual de um discurso, como este, empenhado em reduzir a beleza de um jogo de futebol a uma "guerra" contra uma pessoa. Ou também devemos retirar as aspas da palavra guerra?