quarta-feira, agosto 14, 2013

Lady Gaga contra Lady Gaga

Sou dos que pensam que a aplicação do (muito) talento de Lady Gaga tem andado quase sempre limitada pelo seu empenho em viver, mediaticamente, num turbilhão de imagens contraditórias — cada imagem emerge como a negação mais ou menos violenta da imagem anterior. De tal modo que o single Applause, o primeiro do álbum Artpop (agendado para Novembro), a apresenta como uma espécie de clown vencido pelo seu próprio excesso de transfigurações.
Há em tudo isso uma vulnerabilidade tocante que, em todo o caso, não permite disfarçar a paternidade simbólica de que não consegue libertar-se. Ou deveríamos dizer maternidade? De facto, na sua corrida ansiosa para "outra" imagem, Lady Gaga dá a sensação de querer ser mais Madonna que Madonna... o que, além do mais, parece ignorar que as admiráveis transfigurações iconográficas da Material Girl não são meros apêndices visuais, já que nascem de um elaborado e sempre muito complexo pensamento visual da música.
Dito isto, importa reconhecer que Lady Gaga não desarma, a ponto de propor agora um spot promocional de Artpop [video] construído sob o signo de um apoteótico negativismo — "Não comprem Artpop a 11 de Novembro". Tem qualquer coisa que nos faz pensar na tristeza felliniana. A do olhar do cineasta ou a das suas personagens mais desamparadas? Eis uma dúvida que fica por esclarecer.


>>> Site oficial de Lady Gaga.