sábado, agosto 10, 2013

Karen Black (1939 - 2013)

Intérprete americana revelada na década de 60, exemplo modelar da capacidade de transfiguração de uma genuína character actress, Karen Black faleceu em Los Angeles, vítima de cancro, no dia 8 de Agosto — contava 74 anos.
Se há personalidades do cinema cujo talento parece exceder sempre as condicionantes do seu próprio tempo, Karen Black foi, seguramente, uma delas. Certamente não por acaso, começou a afirmar-se na grande produção renovadora, experimental e atípica dos anos 60, mais exactamente em You're a Big Boy Now/A Noite É Perversa (1966), de Francis Ford Coppola. Na sequência de algumas produções televisivas, incluindo uma passagem pela série Mannix (1968), surgiu em Easy Rider (1969), de Dennis Hopper — Black interpretava uma das prostitutas que acompanham Wyatt (Peter Fonda) e Billy (Dennis Hopper) nas celebrações do "Mardi Gras" de Nova Orleães.
Depois, em Five Easy Pieces/Destinos Opostos (1970), de Bob Rafelson, contracenando com Jack Nicholson, interpretou uma empregada de mesa com ambições demasiado utópicas, condensando toda a amargura de uma época envolvida na desencantada reavaliação do "American Dream" — o seu trabalho, com uma fortíssima dimensão trágica, valeu-lhe um Globo de Ouro de melhor actriz secundária e uma nomeação para o Oscar da mesma categoria.
Participou em alguns títulos marcantes da década de 70, incluindo: Drive, He Said/Relações Cruzadas(1971), a estreia na realização de Jack Nicholson; Portnoy's Complaint/Os Complexos de Portnoy (1972), adaptação do romance de Philip Roth por Ernest Lehman; O Grande Gatsby (1974), de Jack Clayton (que lhe valeu um segundo Globo de Ouro, de novo na categoria de actriz secundária); Aeroporto 1975 (1974), de Jack Smith, um dos mais populares "filmes-catástrofe" da época; The Day of the Locust (1975), visão romanesca & apocalíptica de Hollywood nos anos 30, segundo o romance de Nathanael West, com direcção de John Schlesinger; Nashville (1975), admirável retrato dos bastidores da música country, por Robert Altman; enfim, Family Plot/Intriga em Família (1976), genial e muito esquecido título final de Alfred Hitchcock, demonstrando por A + B que toda a comédia tem como ponto de fuga a nitidez da morte — Hitchcock soube explorar como ninguém o misto de vulgaridade e glamour que a presença de Black podia envolver e o cartaz do filme fazia-lhe justiça, apresentando-a como figura dominante.
Infelizmente, com o passar dos anos, a carreira de Black foi-se cumprindo através de muitos produtos televisivos de rotina ou, então, em variações de figura "barroca" e "maligna" em produções de terror de série Z. Uma das excepções aconteceu quando Altman a voltou a convidar para contracenar com Sandy Dennis e Cher em Come Back to the Five and Dime, Jimmy Dean, Jimmy Dean/Volta Jimmy Dean, Volta para Nós (1982), baseado na peça de Ed Graczyk sobre um grupo de mulheres que se reune na data do aniversário da morte de James Dean.
Black foi casada quatro vezes, a terceira das quais com o escritor L. M. Kit Carson — desse casamento nasceu Hunter Carson (n. 1975), actor que se estrearia em Paris, Texas (1984), no papel do filho que Travis (Harry Dean Stanton) procura reencontrar; o argumento do filme foi escrito por Sam Shepard e adaptado por L. M. Kit Carson.

>>> Em 2011, a University of California, Los Angeles (UCLA) apresentou uma cópia restaurada de Come Back to the Five and Dime, Jimmy Dean, Jimmy Dean; a sessão realizou-se no Billy Wilder Theater, abrindo um festival dedicado à preservação de cópias antigas — esta breve reportagem inclui declarações de Karen Black, sublinhando, em particular, a atitude inovadora de Robert Altman na direcção dos actores.


>>> Obituário no New York Times.