quarta-feira, agosto 21, 2013

Em conversa: Adam Ant (1/2)

Esta é parte da entrevista que serviu de base a um artigo sobre o álbum de regresso de Adam Ant, que foi publicado no DN.

Esteve longe da música durante muitos anos. Porque levou tanto tempo a criar um novo disco e o que fez saber que era a altura para regressar?
Depois de Wonderful decidi focar a minha atenção numa carreira como ator, e estava então a viver em Los Angeles. Assim foi por cinco anos. Depois vivi no Tennesse durante uns outros três anos e mais tarde nasceu a minha filha. E aí achei que devia dedicar-lhe algum tempo. Pelo caminho escrevi um livro. Só há dois anos é que decidi voltar a dar concertos, a juntar uma banda e a fazer um disco. Parece que levou muito tempo, mas tive também de tratar de obrigações contratuais. Agora tenho a minha própria editora.

Visualmente a ideia que a capa do novo álbum sugere leva-nos para um período na sua vida em que apostou na imagem de uma forma evidente, vestindo a pele de personagens de outros tempos como piratas e hussardos. É uma imagem que acha que as pessoas ligam a si?
Tenho nove álbuns editados... Quando se regressa e começa a dar concertos depois de um período de ausência, senti que tinha um corpo de canções entre as quais podia escolher as que ia tocar. As canções que prefiro mesmo. Gosto de recordar singles, mas também temas de álbuns e lados B. Gosto de tocar coisas mais antigas do tempo do Dirk Wears White Socks. Mas o meu álbum preferido é o Kings of The Wild Frontier, e achei que podia ver como estaria essa mesma personagem 30 anos depois. Daí desenvolvi a ideia de alguém que foi até Moscovo com Napoleão mas sobreviveu. Há esse tema histórico de uma personagem que assim pude revisitar. E o álbum é sobre isso mesmo. E chame-lhe Adam Ant Is the Blueblack Hussar in Marrying the Gunner's Daughter.

Na etapa entre Kings of The Wild Frontier e o sucessor Prince Charming a utilização do vídeo fez da imagem uma força ainda mais importante. Acha que por esses dias os telediscos quase engoliram o protagonismo da música e si?
Sim, chegou a ser perigoso. Eu tinha já feito trabalho como ator, por isso estava preparado. Os vídeos foram até uma grande oportunidade para explorar os conhecimentos que tinha e ver o que poderia fazer. Serviram para criar histórias. Tudo serviu para servir explorar, na forma de pequenos filmes, o que eram as ideias das canções. Quando o video surgiu havia muita resistência das editoras, que não queriam gastar muito dinheiro na sua produção. Eu investi o meu dinheiro para criar os meus mini-filmes...

Como, por exemplo, no caso de Stand and Deliver?...
Sim, exatamente. Esse paguei-o eu mesmo. Paguei-os porque achava que valia a pena fazê-los. Sempre tive a consciência da importância da imagem perante uma canção. Mas ao mesmo tempo sempre toquei ao vivo. Sempre tive uma banda. O video não foi algo que tomasse assim o lugar da música. Creio que o Thriller do Michael jackson foi mesmo o ponto mais alto que se atingiu. Depois os orçamentos passaram a ser milionários,. E chegou-se a um ponto em que se transformaram na coisa mais importante a fazer e isso era algo que eu não queria. O video foi para mim um bónus para fazer um publico sentir qualquer coisa, mesmo antes de nos poder ver ao vivo. A revolução do video foi por isso muito importante para artistas como eu. Foi uma boa maneira de poder chegar onde nunca teria podido ir antes.

Falava do trabalho como ator. Participou, por exemplo, em Jubilee, filme histórico de Derek Jarman...
Sim, e foi tudo muito explícito, muito espontâneo. Ele deixava os atores improvisar muito. Ele não tinha muito dinheiro... o que gerava algumas restrições. Era um cinema de guerrilha, de certa maneira. Foi o único filme a captar a energia do punk, a captar o verdadeiro feeling do que estava a acontecer e daquele tempo tão importante. O Derek era um homem muito criativo.



Imagens do teledisco de Stand and Deliver, de 1981

(continua)