Entre finais dos anos 70 e inícios dos anos 80, parte da movida londrina passava pelo Blitz, em Covent Garden. Na pista a música celebrava o que então era conhecido como as “Bowie Nights”, com Rusty Egan como DJ. No bengaleiro Boy George (que pouco depois formaria os Culture Club) recebia os casacos de quem chegava. E pela porta, sob controlo apertado de Steve Strange, vocalista dos Visage, só passava quem tivesse vestido como aquele clube exigia (reza a mitologia que Mick Jagger chegou a ver a entrada barrada porque ia... mal vestido). Estas noites, onde nasceu o movimento new romantic (que nos deu nomes como os Spandau Ballet ou Duran Duran) definiu uma relação próxima entre a noite, a moda e a cultura pop na Londres dos anos 80. Uma história que agora se recorda em Club to Catwalk: London Fashion in the 1980s, exposição que está patente até 16 de fevereiro no Victoria & Albert Museum (o mesmo que este ano chamou tantas atenções com a exposição dedicada a David Bowie).
Roupas usadas por Boy George, Adam Ant ou Leigh Bowery (figura central no Taboo, outra “instituição” da noite londrina nos oitentas) fazem parte de uma mostra que junta as criações a imagens da época e, porque foi determinante, às novas revistas que davam conta do que acontecia e levavam as ideias da noite e da moda mais além. Publicações como, por exemplo, as míticas The Face (que foi um dos mais importantes espelhos de toda esta agitação, tida como uma “bíblia do estilo”) i-D ou Blitz, traduziam essa confluência de interesses que cruzava novas gerações de músicos e de criadores de moda e que conhecia nas celebrações hedonistas da capital britânica uma verdadeira passerelle para ver e ser vista.
A exposição, que passa por “tribos” marcantes na época como os new romantics, góticos, fetichistas, high camp e até mesmo marcas dos primórdios da cultura rave, apresenta 85 criações de designers como John Galliano, Vivienne Westwood ou Katharine Hamnett e inclui também acessórios criados por nomes como Stephen Jones ou Patrick Cox.
A marcante presença da cultura da noite nos espaços da exposição retrata também o gosto pelo excesso daqueles que frequentavam o Blitz, o ecletismo e a busca de personalidade dos habitués no Taboo (onde reinava a atitude “não há nada que ali não se possa fazer”) ou os visuais influenciados pela música de dança que emergem com a cultura rave.
O livro 80s Fashion: From Club to Catwalk (editado por Sonnet Stanfill) foi lançado como complemento à exposição.