Scott Matthew
“Unlearned”
Glitterhouse
3 / 5
Como tantos outros descobri Scott Matthew nas canções que levou à banda sonora de Shortbus, de John Cameron Mitchell. Australiano, com primeiros passos dados em bandas punk em Brisbane, antes de se mudar para Sidney e, mais tarde, para Nova Iorque onde em 2001 surge integrado nos Elva Snow. As primeiras experiências de Scott Matthew no cinema ganham forma também com a chegada a Nova Iorque, inicialmente em trabalhos de anime. Mas foi em Shortbus (2006), onde a sua presença se destacou entre outros nomes de uma banda sonora de primeira linha, que cativou atenções, que depois o seguiram atentamente quando, em 2008, se apresentou finalmente com um disco em nome próprio. De então para cá passaram-se mais dois álbuns de estúdio e uma antologia. E agora chegou a vez de “desaprender”. A noção é uma das leituras possíveis do sentido do título de Unlrarned, um álbum integralmente feito de versões. Desaprender a forma como as canções se manifestam nas suas formas originais para, depois, nelas poder o músico encontrar o seu lugar e, reinventando-as, tornando-as como suas. Sem ceder nunca às caracteristícas interpretativas dos autores originais, dessacralizando as formas que em alguns casos definiram canções que hoje são clássicos,. Scott Matthew parte firme das marcas da voz autoral que antes já definiu em discos de temas originais e faz deste conjunto um ciclo com um sentido de personalidade e coesão que o faz sentir como seu. Há aqui versões para canções como I Wanna dance With Somebody (de Withney Houston), No Surprises dos Radiohead, Harvest Moon de Neil Young, Love Will Tear Us Apart dos Joy Division. I Don't Want To Talk About It, de Rod Stewart ou Darklands (dos The Jesus and Mary Chain). Em To Love Somebody (dos Bee Gees) canta em dueto com o seu pai, Ian Matthew e, em Smile (de Charlie Chaplin) partilha o protagonismo com Neil Hannon, dos Divine Comedy. A voz frágil e desencantada, os arranjos clássicos que nunca afogam o canto em malabarismos desnecessários e uma certa unidade na forma de transformar e apresentar as canções faz de Unlearned uma experiência coerente, sólida e pessoal.