Velha questão teórica, inevitavelmente irónica: Jerry Lewis é um autor há muito consagrado em França (e noutros contextos europeus), permanecendo para quase todos os americanos, especialmente os jornalistas e críticos, uma mera curiosidade do género cómico. Dir-se-ia que o seu génio para desmontar os dispositivos do cinema clássico — sobretudo nos filmes que realizou na década de 60, incluindo O Homem das Mulheres (1961) e Jerry e os Seis Tios (1965) — o torna irremediavelmente baço perante os olhares de quem observa tais dispositivos como coisas "naturais".
Vem isto a propósito de mais um curioso (e divertido) sintoma de tal "incompatibilidade". Tem a ver com a recente reposição, em Paris, de The Nutty Professor (1963), genial variação sobre O Médico e o Monstro, em França chamada Docteur Jerry et Mister Love (entre nós: As Noites Loucas do Dr. Jerryll). Bruce Handy, editor da Vanity Fair, esteve numa das sessões, falou com alguns espectadores e dá conta da sua risonha descrença: o artigo está disponível no site da revista; já agora, sugiro a revisão da cena admirável em que, pela primeira vez, o Professor Julius Kelp (o "médico", na foto) surge transfigurado em Buddy Love (o "monstro").