quinta-feira, julho 25, 2013

Hollywood e os seus milhões

1. R.I.P.D. é o título de um dos grandes falhanços comerciais deste Verão nas salas dos EUA. "Bom" ou "mau"? Não interessa. Literalmente: não é disso que estas linhas falam. Trata-se, isso sim, de reagir contra um certo ambiente "jornalístico" em que parece só ser possível abordar os "blockbusters" que Hollywood lança no Verão em função de uma descrição festiva (?): seriam sempre uma apoteose de milhões de dólares, ganhos num abrir e fechar de olhos... Semelhante "informação" nem sequer se preocupa em perceber o labirinto económico em que as coisas acontecem. De facto, que um filme tenha passado a barreira dos 100 milhões de dólares, pode dar uma boa manchete... Mas não seria, no mínimo, prudente acrescentar quanto custou? Por vezes, pode ter custado mais de 200 milhões. O que significa que, de acordo com as normas vigentes, se investiram pelo menos mais uns 150 milhões na respectiva promoção — na prática, uma receita de 100 milhões pode ser um suave... desastre! R.I.P.D., precisamente: sendo a primeira semana de exibição um factor sempre decisivo para este tipo de produtos, o filme está a chegar a 16 milhões de receita ao fim do sexto dia de exibição, tendo custado... 130 milhões!

2. Não se trata de dizer que, alguém, deste lado do Atlântico, descobriu tais problemas... Nada disso. Trata-se, isso sim, de (re)lembrar que a economia dos "blockbusters" está a ser cada vez mais discutida em Hollywood — personalidades tão influentes como Steven Spielberg e George Lucas já falaram mesmo da possibilidade de "implosão" da indústria. Ora, justamente, o tema adquiriu nova pertinência neste Verão de vários desastres nas bilheteiras, a ponto de uma publicação tão prestigiada como The Hollywood Reporter (re)abrir a questão, através de um artigo de Pamela McClintock, propondo "5 maneiras" para resolver a actual crise de audiências. Vale a pena ler o artigo que, num tom sucinto e saudavelmente provocatório, relembra factores como os custos astronómicos, as sobreposições de lançamentos de títulos de algum modo semelhantes e até a saturação de banais filmes de desenhos animados. Sem esquecer que a possibilidade de "fazer filmes melhores" não deve ser posta de parte — há mesmo um produtor (não identificado) que terá declarado: "Na verdade, os filmes que falharam neste Verão não mereciam fazer mais receitas do que aquelas que conseguiram."