quinta-feira, julho 18, 2013

Discos pe(r)didos:
Amina, Wa Di Yé


Amina
“Wa Di Yé”
Mercury
(1992)

A passagem por um palco “eurovisivo” pode ser vista como potencial estigma para muita gente, sobretudo dado o panorama a resvalar para o caixote do lixo que frequentemente habita entre as canções que desfilam a cada ano pelo concurso. Mas a história do Eurofestival não é um deserto assim sempre tão árido. E entre os oásis que refrescaram a sede de descoberta podemos apontar o momento em que uma jovem cantora tunisina representou a França, em 1991, ao som de Le Dernier Qui A Parlé... Somou tantos pontos que a canção sueca desse ano (uma coisa mais chapa-cinco feita de mais-do-mesmo), mas pelas regras acabou em segundo lugar... A verdade é que, mesmo sem vencer o festival, a canção de Amina abriu-lhe as portas a uma carreira com considerável visibilidade. A música circulava há muito no seu código genético. A sua avó, assim como a sua mãe, faziam música e um dos seus tios esteve envolvido na criação do festival Tabarka, na Tunísia, onde conheceu Wasis Diop, que acabaria por vir a ter importante papel na sua discografia. Antes de passar pela Eurovisão tinha já gravado colaborações com Afrika Bambataa e Haruomi Hosono (da Yellow Magic Orchestra), iniciado uma carreira em paralelo no cinema (um dos seus primeiros papéis foi em Um Chá No Deserto, de Bernardo Bertolucci) e lançado em 1990 um álbum de estreia. Sob um perfil de maior visibilidade Amina apresentou em 1993 um segundo álbum em nome próprio que, um pouco como o ainda então recente Beauty (1990) de Ryuichi Sakamoto, procurava encontrar caminhos novos de diálogo entre os espaços da world music e uma nova identidade urbana, cosmopolita e contemporânea. Com Wasis Diop na produção e colaborações de peso como as do baterista Tony Allen e do violinista Wasis Diop, Wa Di Yé (que podemos traduzir como “o amor é único”) cruza ambientes, sonoridades e formas da música magrebina com electrónicas e padrões rítmicos que faziam então a linha da frente da invenção ocidental. Expressão evidente de uma modernidade sem fronteiras que tomava então Paris como uma das mais cosmopolitas capitais da produção discográfica das várias latitudes das músicas africanas, Wa Di Yé é também exemplo maior de uma etapa de busca de diálogos entre linguagens e geografias que caracterizou algumas frentes da world music em inícios dos anos 90.