Nas páginas do New York Times pode encontrar-se o video da câmara de vigilância que registou o terrível acidente de Santiago de Compostela. Faz-se click e acedemos aos 14 segundos de imagens em movimento [ver no final deste post].
O mesmo video está, evidentemente, disponível em sites de órgãos de informação de todo o mundo. São raros os que dão a ver as imagens com esta secura do NYT. Na maior parte dos casos, antes das imagens surgem anúncios (nalguns casos com cerca de 30 segundos de duração). Em sites de diversos países, antes daqueles 14 segundos, encontrei publicidade a:
* uma ligação à Net
* uma companhia aérea
* uma instituição de crédito
* uma pasta de dentes
* um desodorizante
Não se trata de sugerir que alguns jornais ou canais de televisão são "mais", outros "menos", sensíveis à tragédia em Espanha. O que importa reter não tem a ver directamente com esta notícia, mas com o enquadramento de muitas notícias. A saber: o poder normativo das percepções correntes pela publicidade triunfa para além dos conteúdos informativos. No limite, já não temos espaços informativos que inserem publicidade, mas sim mensagens publicitárias que, de vez em quando, se suspendem para deixar passar as notícias.
Sou dos que pensam que a publicidade é um fascinante domínio criativo (e, se provas são necessárias, alguns posts deste blog, ao longo dos anos, atestam-no sem equívoco). O certo é que isso não me impede de pensar também que, não poucas vezes, os jornalistas se demitiram de avaliar o modo como a publicidade pode tomar o poder sobre as configurações das mensagens que produzem e publicam — não lidar com tal problemática é, implicitamente, desvalorizar o valor primordial da prática jornalística.