domingo, junho 30, 2013

Richard Matheson nas televisões... onde?

Como é que, em muitos casos, a televisão se referiu ao falecimento do grande Richard Matheson... Aliás: referiu-se? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 Junho), com o título 'Lembrando Richard Matheson'.

1. No dia 23 de Junho, em Los Angeles, faleceu o escritor e argumentista americano Richard Matheson – contava 87 anos. Para além de ser autor de vários títulos clássicos do fantástico e da ficção científica – um deles, I Am Legend, adaptado três vezes ao cinema (a última das quais em 2007, com Will Smith) –, Matheson tem o seu nome ligado a The Twilight Zone, uma das séries nucleares na história da televisão. Vale a pena recordar que, há poucas semanas, a Writers Guild of America (associação dos argumentistas americanos) estabeleceu a sua lista das melhores séries televisivas de sempre, surgindo The Twilight Zone em terceiro lugar, depois de Os Sopranos e Seinfeld. Matheson esteve particularmente activo no período original da série (1959-64), tendo escrito nada mais nada menos que dezasseis argumentos para episódios coordenados pelo seu criador, Rod Serling. A presença de Matheson na história da televisão envolve ainda, por exemplo, a adaptação do seu conto Duel, para um telefilme de 1971 dirigido por Steven Spielberg que, aliás, viria a ser o primeiro trabalho do futuro realizador de Os Salteadores da Arca Perdida a ter distribuição nas salas de cinema (entre nós lançado como Um Assassino pelas Costas). Entre os seus diversos contributos cinematográficos como argumentista incluem-se The Incredible Shrinking Man (1957), de Jack Arnold, e O Fosso e o Pêndulo (1961), de Roger Corman, este inspirado em Edgar Allan Poe.

2. Pois bem, importa formular a mais linear das perguntas: perante o falecimento de uma personalidade tão marcante na história e na mitologia da televisão, será que vimos e ouvimos o nome de Richard Matheson ser devidamente celebrado nos nosso pequenos ecrãs? A resposta é desgraçadamente negativa, já que, para além da exaltação histérica da “crise”, os arraiais de música pimba e as transferências do futebol dominam o pensamento (?) televisivo. Inútil recordar que Matheson é um nome que pertence à dimensão mais popular da televisão. Na prática, a ideologia televisiva dominante nem sequer cultiva a memória dos seus melhores.