sábado, junho 01, 2013

Reencontro com Grigory Sokolov


* Sexta, 31 Mai 2013, 19:00 - Fundação Gulbenkian

Franz Schubert
Impromptus, D. 899
Drei Klavierstücke, D. 946

Ludwig van Beethoven
Sonata nº 29, em Si bemol maior, op. 106, Hammerklavier

Grigory Sokolov regressou ao Grande Auditório igual a si próprio: enigmático como uma personagem de um filme mudo de Murnau, generoso até à insensatez (seis encores...), enfim, tão igual e tão imprevisível. Porquê? Sem dúvida porque há nele essa disponibilidade imensa de compreender que a pauta (ausente!) não é um material para mera transcrição, antes o lugar de um pensamento que importa contemplar, decifrar, partilhar. Sentimos o rigor e o método desse labor nas infinitas nuances dos Impromptus, de Schubert, mas sobretudo na majestática abordagem da sonata de Beethoven — como se se tratasse, não apenas de revisitar uma obra que condensa as singularidades de um universo criativo, mas também de descortinar na sua estrutura o que dela faz uma espécie de guia esotérico para muitas convulsões musicais que depois aconteceram [em baixo: 1º andamento, Allegro - apenas som, registo de 2012, em Leipzig].
Sokolov, enfim, abandonou o palco cerca de três horas depois de ter começado o seu concerto... Decididamente, com ele, todas as medidas do tempo são reconvertidas para as coordenadas de uma cerimónia sem equivalente, dir-se-ia exterior à própria noção de tempo.