OMD
'English Electric'
100% Recordings
3 / 5
Perante tantos regressos aos discos que resultaram em tremendos trambolhões (e os medíocres álbuns de "reunião" de bandas como os Bauhaus ou Cuture Club são apenas dois exemplos possíveis de um panorama onde outros do mesmo calibre não faltam), o reencontro da formação "clássica" dos Orchestral Manouevers in The Dark (OMD) com os discos em History Of Modern (2010) deu-nos uma das (poucas) exceções ao que parece ser uma regra. O disco, que surgiu depois de uma digressão de reunião, que devolveu as presenças de Andy McKluskey e Paul Humphries à linha da frente do palco, tomando então o alinhamento do cássico Architecture and Morality (álbum de 1981) como peça central dos concertos, mostrava uma mão cheia de canções que convocavam ecos de memórias na primeira pessoa, dos jogos entre as duas vozes à evidente expressão pop de uma admiração profunda pelas heranças de uns Kraftwerk renascendo, sem se esgotar num mapa de nostalgias, um nome que naturalmente reconhecemos como força maior da primeira geração da pop eletrónica. Agora, três anos depois, ei-los que voltam a dar um passo invulgarmente seguro (e digo invulgarmente em comparação ao padrão sobretudo feito de equívocos que costuma acompanhar estes renascimentos), apesentando em English Electric um herdeiro natural do magnífico Dazzle Ships e, sem espaço para dúvidas, o seu melhor disco desde Junk Culture (e já lá vão 29 anos!). Editado em 1983, sucedendo ao tremendamente popular (e musicalmente saboroso) Architecture & Morality, Dazzle Ships representou o momento formalmente mais arriscado e, ao mesmo tempo, artisticamente mais desafiante mas comercialmente mais desastroso da discografia do grupo nos anos 80. Ainda hoje a sua obra-prima, Dazzle Ships cruza uma pulsão experimental com uma mão-cheia de grandes canções feitas de uma pop que tanto sabia escutar as lições de uns Kraftwerk como procurar um sentido de luminosidade e humanidade bem distantes da agenda temática e formal mais frequente entre os fab four de Dusseldorf. Das investidas cénicas de Please Remain Seated ao apelo luminoso da pop de um Metroland ou Night cafe não esquecendo as colaborações preciosas do ex-Kraftwerk Karl Bartos e de Claudia Brücken (em tempos a vocalista dos Propaganda) em Kissing The Machine ou a busca de expressões atuais dos ecos diretos desse disco de 1983 em temas como The Future Will Be Silent ou Atomic Ranch, English Elecrtic mostra uma banda que sabe da carga histórica de uma linguagem que definiu há já mais de 30 anos, tecnicamente capaz de a gerir e adaptar a novas composições, mas ciente de que a linha da frente da invenção da pop eletrónica atual está fora do seu alcance (e por isso nem imagina sequer aventuras nesses comprimentos de onda). Não se espere aqui as visões de futuro que exalavam dos seus discos de inícios dos oitentas. Mas este é claramente o melhor disco que nos dão desde esses dias em que ajudaram a inventar tudo o que chegou depois.