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“Music From Baz Luhrman's The Great Gatsby”
Interscope / Universal
3 / 5
O melhor do cinema de Baz Luhrman muitas vezes tem morado em torno da música e da forma como se relaciona com as imagens. A sua adaptação ao grande ecrã não é exceção, o disco com a banda sonora sendo inclusivamente uma experiência mais compensadora que o filme que, mesmo pontuado por alguns bons momentos e ideias (e por uma soberba interpretação de Leonardo diCaprio), acaba tantas vezes afogado nos excessos barrocos que não são novidade no realizador australiano. The Great Gatsby não é, como o foram Strictly Ballroom ou Moulin Rouge, filmes onde a música desempenha um papel central na própria narrativa. Aqui, tal como em Romeo + Juliet (a cuja adaptação o texto de Shakespeare sobrevive todavia melhor que o de Scott Fitzgerald), em The Great Gatsby a música poucas vezes tem uma presença motriz junto da narrativa, servindo mais como elemento algo “decorativo” que por vezes quase se perde entre o volume de formas, cores e ideias que vão cruzando o ecrã. Convenhamos que o disco permite assim uma experiência mais “focada”... E da sua audição rapidamente reconhecemos que estamos perante mais uma expressão de uma mesma forma de trabalhar a construção de uma banda sonora como as que encontrámos entre Strictly Ballroom, Romeo + Juliet e Moulin Rouge. Ou seja, uma reunião de peças inéditas e versões, procurando nos arranjos (sobretudo nas versões) vincar marcas de identidade do tempo ou dos ambientes em que decorre a acção. Com os anos 20 do século XX por cenário, os dias loucos do charlston e ecos das primeiras expressões do jazz habitam entre uma mão cheia de momentos, como aquele em que Bryan Ferry revisita Love Is The Drug sob marcas de época ou Emeli Sandé faz o mesmo em relação a Crazy In Love de Beyoncé, em ambos os casos com ajuda da Bryan Ferry Orchestra. Há pontes entre estes tempos e a pop do presente numa colaboração entre Fergie, Q-Tip e GoonRock, o vincar deste mesmo sentido de contemporaneidade habitando a contribuição de Wiil.i.am em Bang Bang (que serve de banda sonora a luxuriante cena de festa na mansão de Gatsby). O melhor da banda sonora está em novas canções de Lana del Rey e Sia, assim como na belíssima versão de Love Is Blindness (dos U2) por Jack White ou na assinatura de Jay Z produtor executivo do disco, na faixa que abre o alinhamento. Há momentos dispensáveis por parte dos sobrevalorizados The XX, da cansativa Florence & the Machine e do insosso Gotye. Apesar dos bons momentos, e mesmo melhor que o filme, a soma não entusiasma por aí além...