The National
“Trouble Will Find Me”
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2 / 5
Quando uma banda chega a um sexto álbum de estúdio, ou dá um salto à la Rubber Soul (como os Beatles fizeram em 1965) ou ao jeito de um Achtung Baby (U2, 1991) ou acaba à beira de um precipício sobre um terreno mais feito de rotinas e de gestão de uma linguagem (e um estatuto) que, mesmo sob a continuada aclamação dos mais acérrimos admiradores ou de um público eventualmente em crescendo, acaba por suavizar o gume da vertigem criativa (e a coisa perde interesse). Convenhamos que, entre Aligator (2005) e The Boxer (2007) os The National eram uma das mais interessantes bandas herdeiras de uma certa forma de expressar melancolia urbana entre guitarras, baixo, bateria, ocasional instrumentação mais complexa e uma voz capaz de dar sentido maior às palavras que canta e que tem grande tradição no panorama pop/rock alternativo, sobretudo depois as assombrações a que alguns espaços do pós-punk deram voz em finais dos setentas. Mas desde esses dois discos pouco parece ter mudado pelos lados desta banda que ajudou a colocar Brooklyn no mapa das atenções na década dos zeros. High Violet (2010) era competente expressão de uma continuidade que volta a ter no novo Trouble Will Find Me uma banda sóbria, segura, refletida, mas cada vez menos dada a ensaiar outros olhares. É claro que temos as palavras e as temáticas que abordam, sendo sobretudo interessantes olhares sobre a amizade e a forma como começam a entender um outro sentido aos valores da memória, coisa que só o tempo sabe dar. Mas mesmo sendo este mais um disco de pensada escrita e meticuloso pensar dos arranjos, são escassos os instantes em que o disco nos faz estremecer, o belo Demons será uma das mais evidentes exceções num alinhamento mais morno que quente, mais cauteloso que ousado, mais na defesa que no ataque. É claro que os discos não precisam de ser quentes, ousados ou atacantes para serem coisa apaixonante. Mas há neste conjunto de canções uma sensação de “conforto” que parece sobretudo apontado a outras ambições... E se até aqui era o presente quem se apaixonava pela música dos The National, neste disco parece ser antes a banda quem eventualmente procura seduzir o tempo em que vive. Não são ainda os Coldplay de berço indie americano... Mas estão decididamente longe de traduzir aqui o fulgor que neles outrora já reconhecemos. Não é um disco mau (tecnicamente é um álbum cuidado, bem tocado e bem produzido, e conta com contribuições de nomes como os de Nico Muhly, Owen Pallett ou Sufjan Stevens). Só não me peçam entusiasmo numa música que de entusiasmante pouco parece ter hoje em dia.