Mick Harvey
Four (Acts of Love)
Mute Records
4 / 5
E poucos meses depois de encontrarmos em Push The Sky Away o primeiro álbum de Nick Cave com os Bad Seed, mas sem Mick Harvey, eis que surge o primeiro disco do companheiro de mais de 30 anos de discos, agora em rumos definitivamente separados. Mick Harvey sempre teve intensa atividade exterior aos Bad Seeds (e aos Birthday Party que os antecederam). De uma colaboração com os Crime and The City Solution na segunda metade dos oitentas a uma discografia a solo encetada com dois álbuns de versões de canções de Serge Gainsbourg (editados entre 1995 e 97), passando por vários trabalhos de escrita de música para cinema e parcerias com outros músicos, entre os quais PJ Harvey (com quem tem trabalhado nos últimos tempos), Mick Harvey cedo deixou assim clara a expressão de uma voz própria de que o presente Four (Acts of Love) é uma das suas mais cativantes materializações. Algo nos antípodas dos climas que haviam dominado as palavras (e as músicas) assombradas do anterior Sketches From The Book of The Dead (de 2011), o novo disco assinala um episódio de renascimento no qual se celebram as mais românticas expressões do amor. Entre uma série de composições suas e uma mão cheia de temas de outros autores, Mick Harvey constrói um sedutor ciclo de canções que define uma noção de corpo comum através dos arranjos (que destacam o dedilhar da guitarra, mas mostram atenção a um saber cinematográfico na discreta ordenação de décors onde as canções se sucedem) e de uma voz que tudo une no final. Além de uma canção de PJ Harvey (Glorious), o alinhamento do disco inclui versões de The Story Of Love dos The Saints, The Way Young Lovers Do de Van Morrisson, Summertime in New York de Exuma e Wild Hearts (Run Out of Time) de Roy Orbison. Dividido em três atos, com um arco narrativo que abre e fecha com duas leituras para o seu magnífico Praise The Earth, o novo disco de Mick Harvey é coisa feita de luz, clacissimo e tranquilidade. Vem em boa altura, convenhamos.