quarta-feira, maio 08, 2013

Novas edições:
Dead Can Dance, In Concert

Dead Can Dance 
“In Concert” 
PIAS / Edel 
3 / 5 

Foi sobretudo entre a segunda metade dos oitentas e a primeira dos noventas que os Dead Can Dance se afirmaram como um dos mais expressivos e pessoais espaços de reflexão sobre uma noção de alargamento das referências de tempo e geografia no espaço da cultura “alternativa”. Revelados entre o catálogo da mítca 4AD, tendo inclusivamente construído juntamente com os Cocteau Twins e a banda “da casa” This Mortal Coil (porque vivia da reunião e colaboração entre músicos ligados à editora) uma primeira ideia de “som” 4AD (se bem que na verdade sempre houve ali acontecimentos além desses horizontes), os Dead Can Dance alargaram gradualmente a sua esfera de trabalho à presença de música de outros tempos, remontando mesmo aos tempos da chamada ‘música antiga’, e de outras partes do mundo, mas sem que tal os colocasse necessariamente nas esferas da world music. Após uma longa ausência dos discos, regressaram em 2012 com Anastasis, álbum que mais não procurou senão uma continuação natural dos rumos “tardios” da discografia da banda nos anos 90, nomeadamente os que tínhamos escutado entre Into The Labyrinth (1993) e Spirit Chaser (1996) e que de certa forma correspondem ao climas e demandas que registaram em Toward The Within, primeiro álbum ao vivo, editado em 1994. In Concert, que se apresenta em vários alinhamentos consoante a edição que se tenha entre mãos, é assim o herdeiro natural não só deste conjunto de títulos mas de uma vivência (e experiência) que pelo caminho Lisa Gerrard e Brendan Perry foram acumulando. Tal como o fizeram em Anastasis, os dois músicos não quiseram em palco fugir à essência do trilho que vinham a talhar conjuntamente, sendo In Concert um registo que parece iludir-nos quanto ao intervalo de quase vinte anos que o separa do registo de palco anterior. O contraste das vozes, a instrumentação delicada, mas luxuriante nos arranjos, os climas tão característicos que o grupo definiu e talhou entre álbuns que hoje são peças da história da cultura alternativa, estão novamente em cena. Do alinhamento do álbum de 2012 chegam várias canções, que aqui partilham o espaço (e se diluem) entre composições de outros tempos e outros discos, a elas juntando-se, em ambos os casos na voz algo assombrada de barítono de Brendan Perry uma versão de uma muito antiga canção árabe (Lamma Badda) e uma leitura, não muito entusiasmante, do “clássico” de Tim Buckley Song To The Siren, que nos oitentas conheceu mítica versão pelos This Mortal Coil (via 4AD, lá está). Não acontece na verdade muito mais. Talvez nem seja preciso...  Mas abre apetites para os reencontros em palco que nos esperam em breve por estes lados...