segunda-feira, maio 06, 2013

Hollande: uma imagem

A presidência de François Hollande está em crise... Et pour cause. O jornal Libération intitula mesmo o dossier motivado pelo primeiro aniversário da tomada de posse do Presidente da República Francesa com o eloquente: "O Homem Só". Repare-se: não um drama individual ("um" homem), mas uma espécie de decomposição simbólica de um modelo (de esquerda?), cristalizada na odisseia de um indivíduo ("o" homem).
Na sua primeira página, o Liberátion publica a fotografia oficial de Hollande, da autoria de Raymond Depardon. A utilização da imagem, não como ilustração "passiva", mas exposta num cavalete (fotografia-de-fotografia), constitui um grande e pedagógico momento de jornalismo. Porquê? Porque nos diz que o valor de uma imagem é inseparável da sua redundância de la Palice: uma imagem é "apenas" uma imagem (Godard: "pas une image juste, juste une image").
O Liberátion explicita, assim, uma espécie de fantasma iconográfico e ideológico que permanecia adormecido na fotografia de Depardon. Que é como quem diz: a encenação de Hollande como um homem "normal" surge, agora, exposta no seu avesso... e somos levados a concluir que a normalidade pode ser, afinal, uma forma de solidão.
Há outra maneira de dizer isto: a história de cada imagem nunca se aquieta. Que os políticos e as televisões acreditem no seu congelamento simbólico, eis o que diz bem da cegueira iconográfica que nos rodeia e contamina.