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[ Adèle ]
Não me interpretem mal: também a mim me parece que Ryan Gosling é um magnífico actor, como o provam filmes como Half Nelson (2006), Lars e o Verdadeiro Amor (2007) ou Blue Valentine (2010). Mas há qualquer coisa de bizarro na fama que ele adquiriu com os filmes de Nicolas Winding Refn: primeiro em Drive (2011) e, agora, de novo na competição de Cannes, com Only God Forgives. Dir-se-ia que quando o vemos de rosto tratado de modo pouco ortodoxo, pelo menos observamos alguma modificação na sua postura... Bem sei que há casos célebres (p. ex.: Clint Eastwood filmado por Sergio Leone) em que uma espécie de neutralidade do actor se adequa a todo um programa de mise en scène. Acontece que, nesse aspecto, Refn parece confundir a afirmação de um estilo de pompa gratuita com a elaboração de uma dramaturgia. O resultado desemboca num formalismo patético, em todo o caso suscitando delírios estilísticos, et pour cause, de alguns críticos franceses — tudo bem; lembremos apenas, por isso, que a "crítica" não existe como coisa unificada, sendo apenas um turbilhão de vozes diversas, por vezes inconciliáveis.