quarta-feira, maio 29, 2013

Cannes 2013: ausência


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O novo filme de Rithy Panh fala-nos desse paradoxo trágico que pode ser a imagem que permanece ausente (image manquante/missing pictures). Rithy Panh é um cineasta cambojano (n. 1964) que conheceu a violência dos “campos de reabilitação” do regime dos Khmers Vermelhos. Quando conseguiu fugir para a Tailândia, aos 15 anos, tinha perdido pai, mãe e irmãos. Foi em Paris que estudou cinema e começou a construir uma obra cuja fundamental exigência é não esquecer as atrocidades ocorridas no seu país. L’Image Manquante (secção “Un Certain Regard”) é mais um momento modelar da sua trajectória, como o título sugere reflectindo sobre aquilo que está em falta: a imagem de uma violência que, afinal, foi pouco documentada. Daí a opção radical: trabalhando com cenários e personagens em miniatura (bonequinhos de barro, de facto), Rithy Panh constrói o contundente retrato de um regime que, como ele diz, para além do menosprezo total pelo factor humano, se empenhou em “substituir” a realidade pela (sua) ideologia. Embora utilizando algumas (muito poucas) imagens de arquivo, raras vezes se terá visto um filme que, através de matérias tão candidamente artificiosas, consiga gerar um tão intenso e perturbante efeito de verdade. É uma lição de história e uma salutar pedagogia contra as ilusões de “transparência” com que, tantas vezes, em televisão, são tratadas as imagens de que se faz a história.