[ solidões ] [ sexo ] [ China ] [ Ophüls ] [ crianças ] [ folk ] [ comboios ] [ entertainment ] [ perfil ]
O novo filme de Abdellatif Kechiche chama-se La Vie d'Adèle - Chapitre 1 & 2 e inspira-se numa novela gráfica de Julie Maroh, cujo título original é Le Bleu Est une Couleur Chaude. Trata-se de narrar o amor que une e separa duas jovens: na BD chamam-se Clémentine e Emma, mas no filme Clémentine passou a Adèle. E porque as convulsões dos nomes nunca são neutras, valerá a pena sublinhar o óbvio: Kechiche dá à personagem o mesmo nome da sua actriz, a incrível Adèle Exarchopoulos (19 anos). Face à também extraordinária Léa Seydoux, no papel de Emma, Adèle vive Adèle como uma prova de fogo em que tudo, corpo e alma, palavras, silêncios e lágrimas, desafia qualquer percepção convencional do comportamento humano, da pulsão amorosa e, claro, da própria arte de representar. Há outra maneira de dizer isto: a herança do cinema de Maurice Pialat está bem viva e, talvez desde Sandrine Bonnaire em Aos Nossos Amores (1983), não assistíssemos a uma revelação tão radical e cristalina.