Um dos grandes exemplos da ficção científica made in UK em inícios dos anos 80 (quando, depois dos sucessos globais de Star Wars e Encontros Imediatos de Terceiro Grau, o género ganhou protagonismo maior no mapa das produções e lançamentos), o filme de Peter Hyams Outland (entre nós estreado como Outland – Atmosfera Zero) foi recentemente citado em vários textos críticos por alturas do magnífico Moon, a primeira longa-metragem de Duncan Jones que retomava, num quadro minimalista, ambientes e ideias que tinham aqui uma das duas referencias maiores (a outra sendo o mais antigo Silent Running, de Douglas Trumbull).
Desaparecido dos escaparates das novidades durante anos, este filme estreado em 1981 conheceu finalmente lançamento em Blu Ray em alguns mercados (norte-americano e já alguns territórios europeus) em finais de 2012, estando também a circular entre nós uma recente edição em DVD de produção espanhola. Trata-se de uma bela notícia para os cultores do género, recolocando no espectro visível uma obra que soube não só cruzar as linguagens da tradição do thriller policial com um contexto sci-fi, representando ainda uma expressão de modernidade no campo dos efeitos visuais (pela utilização pioneira do sistema introvision que permitia uma representação mais ‘material’ dos atores em confronto com pequenas maquetes). Podemos ainda acrescentar à balança “a favor” uma banda sonora essencialmente atonal e expressivamente inquietante assinada por Jerry Goldsmith (que trabalhara já com o realizador em Capricorn One). E, claro, a presença protagonista de Sean Connery (que interpreta o marshall que tem a cargo a segurança da distante estação mineira onde decorre a ação), podendo nós reconhecer que aqui dá dez a zero ao muito débil Moonraker (Lewis Gilbert, 1979), o flirt falhado de James Bond (então nas mãos de Roger Moore) com o universo da ficção científica.
Outland – Atmosfera Zero transporta-nos até um futuro (não especificado) no qual Io (umas das luas de Júpiter) acolhe uma operação mineira, que vive isolada de tudo e todos, salvo quando um shuttle ali passa de semana a semana. Recentemente colocado na estação, um marshall pouco dado a deixar passar ilegalidades por debaixo da mesa, nota estranheza numa série de acidentes fatais com mineiros que parecem ter perdido a noção da realidade antes de mergulharem em ações inevitavelmente suicidas. A possibilidade da presença entre os mineiros de uma droga que acelera o ritmo de trabalho (e a consequente produtividade), mas que acaba por ter consequências danosas para os sistemas nervosos centrais após alguns meses de consumo regular, entra no horizonte das suas preocupações. Mais ainda quando, comprovados traços da sua presença no sangue de uma das vítimas que consegue recolher antes do corpo ser ejetado no espaço, levanta a hipótese de serem os próprios responsáveis pela gestão da mina a assegurar a distribuição do químico.