terça-feira, abril 09, 2013

Novas edições:
TV Mania, Bored With Prozac and The Internet?

TV Mania 
“Bored With Prozac And The Internet?” 
Tape Modern 
4 / 5 

Gravado na segunda metade dos anos 90, na mesma altura em que os Duran Duran trabalhavam em Medazzaland (editado em 1997, foi o melhores dos seus álbuns entre os anos 80 e o recente All You Need Is Now), o primeiro dos três discos idealizados para um projeto paralelo do teclista Nick Rhodes e do guitarrista Warren Cuccurullo acabou literalmente perdido. Até que, há bem pouco tempo, o teclista descobriu (por puro acaso) o DAT com a mistura final das gravações, representando o disco que agora podemos escutar uma verdadeira hipótese de viagem no tempo aos sons, técnicas e ideias que então ali registaram. Apresentando-se como TV Mania, a dupla de músicos trabalhara então numa música que tinha a televisão como principal matéria prima para o material vocal (como de resto já os Duran Duran haviam feito em dois temas do álbum Liberty), de certa forma procurando Nick Rhodes uma variação de um processo de recolha de elementos a partir do pequeno ecrã como o havia feito com as polaroids que tirou no auge da fama global dos Duran Duran e editou, em 1984, no livro Interference. Os samples “colhidos” de emissões televisivas são aqui parte protagonista de um corpo que depois junta essencialmente um trabalho musical que convocava ainda a presença de electrónicas e guitarras, seguindo uma lógica de construção atenta à linha da invenção no seu tempo (recorde-se que este disco é criação contemporânea à edição do visionário Entroducing..., de DJ Shadow, lançado em 1996). Materialização em disco de um projeto de musical de palco entretanto abandonado, Bored With Prozac And The Internet? traduz ainda um percurso narrativo, contando-nos a história de uma família ultra-disfuncional que cativa a atenção de cientistas que a resolvem “vigiar” 24 horas por dia (através do auxílio de câmaras de televisão), entrando depois em cena uma estação de TV que propõe a exibição dessas imagens em direto, ininterruptamente. Estávamos em meados dos noventas, antes da chegada do Big Brother e do filme Truman Show, de Pete Weir, a ideia que sustentava o conceito narrativo resultando assim de uma atenção pelos sinais dos tempos (a consciência do peso da Internet num futuro próximo, a proliferação de novos sistemas de vigilância e o consumo de novos medicamentos) e as naturais ressonâncias do 1984 de Orwell. Tomados de surpresa pela estreia de Truman Show, Nick e Warren abandonaram o musical, concentrando atenções na criação de um álbum que, mantendo estas premissas narrativas, procurou assim uma forma diferente e desafiante de criar canções. Estamos sonicamente em ambientes com alguma familiaridade com momentos da fase Medazzaland dos Duran Duran, o diálogo entre vozes, electrónicas e guitarras não procurando contudo no melodismo pop clássico que serve a escrita do grupo a sua linha condutora. Os temas procuram antes a sugestão de ambientes, a presença vocal “samplada” definindo soluções na verdade mais próximas de uma lógica cinematográfica que de um perfil pop, cabendo a Euphoria (que ecoa memórias de um Love Voodoo dos Duran Duran), uma aproximação mais evidente a terreno pop mais convencional, contando aí com a colaboração vocal de Madeleine Farley. Pedido e (felizmente) achado, Bored With Prozac And The Internet? representa um dos mais interessantes e desafiantes dos vários projetos paralelos alguma vez nascidos entre músicos dos Duran Duran. E merece morar entre os discos que, em meados dos noventas, experimentaram, com bons resultados, novas formas de pensar modelos e práticas de escrita pop.