quarta-feira, abril 17, 2013

Novas edições:
Rhye, Woman

Rhye 
“Woman” 
Republic Records / Universal 
3 / 5 

A expressiva visibilidade (e a boa saúde criativa) que o panorama r&b tem vindo a respirar nos últimos tempos tem os seus reflexos naturais num mapa de acontecimentos que acaba por refletir estes mesmos sinais dos tempos. Assim, e se em 2012 nomes como os de Miguel, Frank Ocean ou The Weekend levaram estas mesmas heranças a novos públicos (gerando mesmo entusiasmo em frequentadores dos terrenos indie habitualmente pouco dados a escutar os acontecimentos nestes comprimentos de onda), os reflexos dos entusiasmos semeados começam a traduzir-se em discos que acabam por espelhar referências comuns, mesmo que seguindo outros caminhos ou lançando demandas substancialmente distantes (tanto que até mesmo a 4AD, editora maior da galáxia indie, e sem quaisquer ligações históricas ao r&b, lançou recentemente o disco dos algo desinspirados Inc.). É neste quadro – que, convém sublinhar, não é de aproveitamento oportunista de um fenómeno, mas antes a consequência natural de um tempo de confluência de discos inspiradores e da natural projeção de entusiasmos junto de um público – que os Rhye entram em cena como mais que apenas a dupla “misteriosa” que lançou duas canções de que tanto se falou em 2012... Hoje sabemos que são eles um canadiano e um dinamarquês, cada qual com obra já feita nos respetivos projetos, mas que um trabalho comum junto e cujo consequente entendimento uniu para gerar um outro novo grupo. Juntos respondem como Rhye, promovendo em Woman uma declaração de amor no feminino, claramente valorizada não apenas pelas sugestões de androginia de uma voz masculina que chegou a chamar comparações a Sade Adu, mas também pela elegância de uma música que é tanto herdeira de ecos do r&b como de uma placidez de ambientes nas periferias de uma pop texturalmente arrumada e elaborada (com nomes como uns Cocteau Twins ou Blue Nile entre possíveis espaços de afinidade em determinados instantes do alinhamento do álbum). Os cuidados arranjos moldam e desenham canções de formas nítidas, o clima melancólico (não de desencantos, mas feito de contemplação e paixão) fazendo de Woman um disco que, mesmo sem acrescentar um qualquer episódio visionário à história das projeções pop de heranças do r&b (como em tempos o fizeram uns Everything But The Girl ou Style Council), não deixa de ser um interessante reflexo deste tempo de reencontro de interesses, criadores e públicos por estes mesmos espaços.