Virginia Astley
“Hope In a Darkened Heart”
Wea
(1986)
Mas falemos agora do disco e de quem o assina. Nascida (em 1959) e criada numa família com tradições musicais, Virginia Astley estudou na Guildhall School of Music, estabelecendo uma formação clássica que lhe permitiria outro fôlego criativo mais tarde. Começou por pequenas colaborações em finais dos anos 70, teve breve passagem pela (visionaria) editora belga Les Disques du Crepuscule e, depois de uma breve etapa em palco com os Teardrop Explodes e de integrar os Ravishing Beauties em inícios dos oitentas, resolveu arregaçar mangas e editar a sua própria música. Gravou um primeiro álbum que ficaria na gaveta até mais tarde, estreando-se em 1983 em From Gardens Where We Feel Secure, disco conceptual de alma paisagista (uma espécie de revisitação do conceito das ‘quatro estações’) que cativou atenções e a colocou entre as grandes revelações do seu tempo e que há alguns anos conheceu reedição em suporte de CD. Hope in a Darkened Heart surgiu em 1986 e revelou uma vontade em explorar o universo da canção pop sem contudo abdicar as tonalidades pastorais e do registo onírico que a sua música começara a tomar. Produzido por Ryuichi Sakamoto e contando com a colaboração vocal de David Sylvian (o dueto Some Small Hope abre o alinhamento e é uma das mais belas canções daquele tempo), este é um disco de formas claras e clássicas, de canções que conciliam a presença de electrónicas (dominantes) com o piano, sinos e arranjos de cordas, a nitidez da produção de Sakamoto fazendo do alinhamento uma pérola de perfeição em regime pop. Silenciado pelo tempo por razões que alguma razão (que desconheço) poderá um dia explicar, Hope In A Drakened Heart é pérola de meados de 80 que urge reencontrar. E deliciosa porta de entrada para a (re)descoberta do universo de Virginia Astley.