terça-feira, janeiro 15, 2013

Sarah Palin, segundo Julianne Moore

Numa noite de premiação algo insossa e na qual os momentos mais brilhantes ficaram por conta do magnífico discurso de aceitação do prémio de carreira por Jodie Foster ou a entrada em cena de Bill Clinton para apresentar o filme Lincoln, de Steven Spielberg, a cerimónia dos Globos de Ouro deu mesmo assim merecido destaque a um dos mais notáveis exemplos da melhor ficção televisiva do último ano: o telefilme Game Change (já exibido entre nós num dos canais TV Cine).

Distribuído pela HBO e realizado por Jay Roach (o responsável pelos filmes da série Austin Powers e também pela minissérie Recount que recordou o “caso” da recontagem dos votos na Flórida em 2000 que acabaria por decidir a eleição a favor de George W Bush), Game Change acompanha a forma como a ex-governadora do Alasca Sarah Palin foi escolhida para o ticket presidencial republicano de 2008, ao lado de John McCain, e o modo como foram vividos os bastidores da campanha que terminou com a primeira vitória de Barack Obama. Interpretada por uma soberba Julianne Moore (justificadamente premiada com um Globo de Ouro por este papel), a figura de Sarah Palin é aqui substancialmente diferente da caricatura que Tina Fey em tempos vestiu no Saturday Night Live. Baseado no livro Game Change: Obama and the Clintons, McCain and Palin, and the Race of a Lifetime, dos jornalistas John Heilemann e Mark Halperin, que acompanharam a campanha, o filme leva Julianne Moore a vestir a pele de uma mulher em nada preparada para os desafios que lhe foram colocados pela frente, a recriação de algumas entrevistas e declarações que deram, brado, o acompanhar da preparação do debate vice-presidencial com Joe Biden e o reconhecimento interno da má escolha construindo um retrato assombroso de uma das piores decisões da história recente do Partido Republicano. Game Change cruza imagens de figuras reais (Obama, Biden, Anderson Cooper, Wolf Blitzer) com os atores, procurando um sentido de realismo que se Ao mesmo tempo, a constatação do star power da candidata, que a atriz tão bem assimila, sublinha os ecos de um tempo em que a construção de figuras “famosas” transcende o espaço da cultura televisiva e pode ter consequências políticas. No final o filme deixa-nos com uma série de questões maiores: afinal, como escolhemos candidatos? Que fronteiras separam as imagens (e a noção que possam sugerir da realidade) das ideias que procuramos por elas veicular? E, no fim, o que move a política de hoje (as ideias e a sua prática ou a mera soma dos votos)?


Imagens do trailer de Game Change.

O filme teve na passada semana edição em Blu-ray no mercado norte-americano (zona A). Para a região europeia está disponível na Amazon do Reino Unido uma versão em DVD.