Pois... “É aquela altura do ano outra vez”, como tão bem o diz o Eurico de Barros na coluna que hoje assina no DN. Chegaram as nomeações dos Oscares e, a dias dos Globos de Ouro e a meio da temporada das distinções das dezenas de associações de críticos e das várias ligas, guildas e “ajuntamentos” profissionais, lá se fazem as notícias somando números, favoritismos e por aí adiante. Poucas semanas depois das listas dos melhores do ano surgem assim outras listas, nem sempre de melhores, mas daqueles de quem se vai falar por conta de uma gala que, ao contrário do que os Grammys gostariam de fazer com os discos, de facto vende globalmente bilhetes nas salas de cinema pelas salas de todo o mundo.
Feitas as contas aos nomeados para os Oscares em 2013 eis que surge Lincoln, de Steven Spielberg na frente. Um filme falado, que nos coloca nos bastidores da votação de uma emenda à constituição americana que deixou o presidente na história pelo facto de ter sido ele o rosto da abolição da escravatura nos EUA. Um filme com ressonâncias evidentes entre aquele e o nosso tempo, particularmente num momento em que um afro-americano ocupa agora a Casa Branca e se prepara para tomar posse para um segundo mandato. Às 12 nomeações de Lincoln seguem-se, na aritmética dourada dos Oscares os 11 que recolheu A Vida de Pi, adaptação garrida de Ang Lee do livro homónimo de Yann Martel. Com oito surge Guia Para Um Final Feliz, recentemente estreado entre nós. E, com sete, uma visão chuva de estrelas de Les Miserables e o bem interessante Argo, de Ben Affleck, outro dos grandes filmes políticos do ano.
Mas ao contrário do que tem sido a norma nos últimos anos (e 2012 foi um pasto desértico e entediante de nomeações e vitórias já esperadas), as nomeações para este ano trouxeram surpresas. Uma delas na forma das cinco nomeações para Amor, de Michael Hanecke (Filme, Realizador, Argumento Original, Atriz e Filme em Língua Estrangeira), que para ser coisa mesmo justa deveria ainda ter somado uma sexta para melhor ator. A outra na expressão algo inesperada (mas justíssima) de Beasts of The Southern Wild, de Benh Zeitlin, uma das mais claras evidências do potencial da “escola” Sundance, que soma quatro merecidas nomeações (Filme, Realizador, Argumento Adaptado e Atriz, aqui fazendo da pequena Quvenzhané Wallis a mais jovem de sempre nesta categoria). Falta aqui a nomeação de Zeiltin para banda sonora, que co-assina com Dan Romer. Houve já quem notasse a reduzida representação de O Mestre, de Paul Thomas Anderson ou Django Libertado de Quentin Tarantino. Mais gritante sendo ainda a ausência de Kathryn Bigelow entre os cinco realizadores nomeados com 00.30 Hora Negra (quase certa sendo contudo a vitória de Jessica Chastain como melhor atriz). E, com Skyfall, Adele deverá levar o primeiro Oscar para a já longa e ilustre galeria de Bond Songs. Mas, aqui, será que ninguém escutou a magnífica canção que Neil Hannon escreveu para Kylie Minogue em Holy Motors?
Nem vale a pena fazer o deve e haver dos que ficaram de fora. Muitos dos grandes filmes que vimos em 2012 não passam por aqui (alguns já estavam de fora do intervalo de tempo e deviam ter surgido já no ano passado). Muito so bom cinema (elegível para este ano) que iremos ver não passa por aqui. Mas ninguém esperaria que passasse... Agora, é esperar pela madrugada do costume...
Podem ver aqui a lista completa das nomeações.