quinta-feira, janeiro 24, 2013

Discos Pe(r)didos:
A Certain Ratio, Up In Downsville

A Certain Ratio 
“Up In Downsville” 
Robsrecords
(1992)

É verdade que, depois de uma longa pausa, regressaram aos palcos e editaram entretanto mais um álbum de originais (Mind Made Up, em 2010). Mas a simples menção do nome A Certain Ratio (ou ACR, como muitas vezes foram tratados nas páginas da imprensa musical) remete-nos quase inevitavelmente para finais dos anos 70 e a alvorada dos oitentas, evocando o nascimento e afirmação de uma visão que então era veiculada pela Factory Records (a mesma que então nos dava discos dos Joy Division ou Durutti Column). Os ACR foram mesmo uma das forças da linha da frente da editora, a sua relação com as linguagens rítmicas e uma opção visual de carga militarista tendo demarcado uma região na cena pop independente de então que fez escola e os transformou em referencia (que o diga o entusiasmo com o qual, anos mais tarde, foram acolhidas as reedições feitas pelo catálogo da Soul Jazz). A etapa mais marcante (e por isso consequente) da obra dos ACR conta-se entre 1979 e 1982. Mas, apesar do que nos mostraram na segunda metade dos oitentas em álbuns como Force (1986) e Good Together (1989), à chegada dos noventas eram uma banda que parecia arredada da vanguarda da invenção pop, apesar da nova visibilidade (e reconhecimento) que a música de dança conquistara com a revolução house entre 1987 e 88. É por isso que, apesar da vibração das ideias que somavam em Good Together, o que nos deram entre 1990 e 92 nos álbuns ACR:MCR e Up In Downsville na verdade pareceu estar mais sob o radar das atenções de velhos admiradores que de novas gerações. Up In Donwsville, editado em 1992, na verdade é um belo exemplo do esforço de uma banda que sempre assimilara os “métodos da dança” em favor das suas canções em experimentar as linguagens emergentes do seu tempo. Passam aqui por territórios house, usam elementos acid e tecnho, vozes de escola negra e um saber tão atento às linguagens da pista de dança como a uma antiga relação com a canção. Com a colaboração vocal de Denise Johnson, Mello ou 27 Forever contam-se mesmo entre os melhores singles dos ACR nos noventas, cartões de visita à espera da redescoberta de um álbum que se seguiu a uma experiência infrutífera com uma multinacional (a A&M) e assinalou o seu regresso a terras independentes. Não é uma obra-prima nem nos dá o melhor da sua discografia, mas merece mais que o silêncio que nos últimos 20 anos cresceu ao seu redor.