O Sound + Vision não podia deixar de sublinhar (de todas as formas e feitios) o regresso de David Bowie aos discos dez anos depois de Reality. Assim, e apesar de já termos aqui dedicado todo um ano a revisões da sua discografia, desta vez dedicamos os fins de semana de 2013 a uma revisão, de fio a pavio, dos singles que fizeram a história da sua discografia a 45 rotações. E começamos assim com aquele que, em junho de 1964, foi o seu primeiro single.
'Liza Jane'
Davie Jones and The King Bees
Vocalion, 1964
Davie Jones and The King Bees. Era assim que se apresentava a banda com a qual David Bowie (David Jones, no passaporte) conseguiu a sua estreia discográfica em junho de 1964. A seu lado estava, entre os outros músicos, o guitarrista George Underwood, que o acompanhara já nos Kon-Rads (a sua primeira banda, na qual militou entre junho de 1963 e setembro de 1963) e os The Hooker Brothers (de vida breve entre julho e setembro de 1963). Os três meses de vida dos King Bees deram contudo a Bowie a primeira oportunidade para gravar, numa sessão de apenas uma hora, curiosamente no mesmo estúdio da Decca em West Hampstead onde meses antes tentara uma (menos bem sucedida) audição com os Kon-Rads. Apesar de creditada a Leslie Conn (o manager da banda), Liza Jane, a canção que ocupa o lado A do single nasceu na verdade de uma série de variações sobre um velho espiritual negro, tanto que, em Complete David Bowie, de Nicholas Pegg, George Underwood é citado numa entrevista na qual diz não ter entendido nunca o crédito que surge prensado no disco (a Leslie sendo ainda atribuída a produção e direção musical). Em clima mod, sem grandes sinais de personalidade face ao que era a linha média dos acontecimentos de tantas outras jovens bandas britânicas cativadas pelo rhythm’n’blues, Liza Jane foi editado pela Vocalion, uma etiqueta subsidiária da Decca que, por sua vez, reeditaria o single, com uma custom sleeve, em 1978 (ver em baixo).
A canção teve estreia televisiva na BBC a 6 de junho, um dia depois da edição do single, no Juke Box Jury, um programa no qual “especialistas” foram convidados a pronunciar-se se seria ou não um êxito, apenas colhendo um entre quatro votos. David e a banda atuariam dias depois no Ready Strady Go! Da ITV e, a 27 de julho, num outro programa da BBC. Apesar da exposição o single, que no lado B incluía uma versão de Louie, Louis Go Home (original de Paul Revere & The Raiders), passou ao lado do mercado... Consta que foram impressas 500 cópias da versão original do single, uma edição contrafeita de origem norte-americana tendo surgido logo depois, a original distinguindo-se pelo facto do vinil ter rodela central e número de série impresso no vinil pela máquina (a edição americana tem centro largo e números escritos à mão).
A mais curiosa das histórias de Liza Jane surge anos mais tarde, numa ocasião em que, ao fazer limpezas em casa, a mãe de Leslie Conn perguntou ao filho o que fazer com umas caixas com singles que tinha na garagem, ao que este lhe responde que os deite fora, assim tendo feito (entre eles estando várias cópias deste single). Hoje, um exemplar original de Liza Jane pode custar acima de 1100 euros.
Capa da reedição, pela Decca, de Liza Jane.
Podem escutar aqui a versão original do single.
E aqui podem ouvir o tema que surgia no lado B.
Ambos os temas podem hoje ser encontrados na antologia Early On (1966-66), editada em 1991 pela Rhino.